A presença da lingerie nas nossas vidas é tão natural que nem paramos para pensar em como era nos primórdios.
Nos dias de hoje, a lingerie está associada sobretudo ao poder de sedução. De fato, é o presente favorito nas datas especiais que celebramos o amor a dois e a paixão. Afinal, Dia dos Namorados, aniversários de namoro ou casamento ganham um toque caliente com uma boa lingerie, não é mesmo?
Mas a história nos mostra que nem sempre foi assim. Você já parou para pensar como era a lingerie antigamente? Este blogpost lhe convida a voltar no tempo e se perguntar: como começamos a usar lingerie?
Voltando no tempo: os gregos que começaram essa história
Ao que tudo indica, foram os gregos que começaram com essa história de lingerie. Para dizer a verdade, no entanto, estava bem longe de ser o que nós entendemos hoje como lingerie. Estava mais para uma roupa íntima que consistia de uma faixa de pano ao redor do tórax, que cobria e sustentava os seios. Na parte de baixo, as mulheres usavam panos de algodão, que mais pareciam fraldas.
De qualquer forma, os gregos antigos levam o reconhecimento de terem sido os primeiros a pensarem na importância de suportes para os seios das mulheres. Conhecidos como “apodesme”, esses sutiãs primitivos eram feitos de tecidos naturais, como lã ou linho. Porém, nessas peças não estava em jogo a questão da sedução. Em princípio, o que se buscava era a proteção interna e a praticidade na sustentação dos seios, sobretudo nas práticas esportivas.

Para quê lingerie? Seios orgulhosamente à mostra
Vale lembrar que, anteriormente aos gregos, a civilização minóica, que se desenvolveu na Ilha de Creta por volta de 2.200 a.C. até cerca de 1.450 a.C., já valorizava muito os seios. Porém, de tão valorizados, não eram cobertos.
De acordo com as pinturas encontradas, as mulheres usavam um tipo de cinta que dava volta nas costas. Era uma espécie de corpete primitivo, usado para dar suporte e erguer os seios, mas deixando-os à mostra. Sim, essas mulheres exibiam orgulhosamente os seus seios! O visual era complementado com saias amplas, em forma de sino, com faixas decorativas muito elaboradas.
Ao que tudo indica, os seios eram considerados sagrados. É provável que esta conotação sacra estivesse ligada à Deusa da Serpente, a famosa deusa encontrada em Cnossos. Esta deusa representava também o ideal de beleza da época. Então imitá-la era o de mais fashion naquele momento!
O sistema usado para deixar os seios de forma harmoniosa à mostra lembra os modernos sutiãs “push-up”. Por esta razão alguns historiadores gostam de dizer que os minóicos foram os precursores da invenção do sutiã.
Aqui, temos o caso de uma lingerie usada principalmente para promover a beleza. Contudo, seu intuito era homenagear a Deusa e não, necessariamente, a sedução.

Lingerie: Simplicidade na Idade Média
No início da Idade Média, o que se considerava lingerie era, na realidade, uma “roupa interior”, ou seja, uma túnica ou camisola larga que se usava por baixo das roupas. Em princípio essa peça de roupa era usada para proporcionar conforto e proteger a pele das roupas pesadas e pouco cômodas que se usavam nesta época. Acredita-se que esse luxo fosse possível apenas para as pessoas mais abastadas, como os nobres, por exemplo. Já os camponeses provavelmente não tinham acesso a essa comodidade. Em ambos os casos – nobres e plebeias – não havia calcinha! Desse modo, em caso de necessidade mensal, as mulheres usavam panos atados.

Na Baixa Idade Média o padrão de beleza começa a sofrer muitas mudanças. A partir do século XIV a moda era ter seios pequenos e ventre arredondado. Por conta disso as mulheres usavam tiras de linho ou couro macio como bandagens para pressionar os seios e enchimento sob o vestido para aumentar o volume do ventre.
Segundo algumas interpretações, esse “Pregnancy Look” surgiu durante os anos da Peste Negra. É provável que as mulheres quisessem simular estarem tão sadias a ponto de carregarem um bebê. De acordo com outras versões, o formato de pera, com barriguinha saliente, mostrava mulheres bem alimentadas e que não trabalhavam no campo. Portanto, em uma época onde a alimentação podia ser bastante rudimentar, esse era um sinal de riqueza.
Independente da veracidade destas interpretações, é importante notarmos o surgimento da ideia de roupa interior utilizada a favor do padrão estético vigente.

Renascimento: lingerie com muito aperto
Com o Renascimento Europeu (Séculos XIV a XVI) começa a surgir um padrão de beleza e feminilidade que apresenta seios grandes, quadris largos e cintura fina. Em seu auge, a moda era uma cintura MUITO fina mesmo. “A cintura ideal na época era de 40 cm a 45 cm de diâmetro”, conforme afirma Miti Shitara, professora de história da moda da Universidade Santa Marcelina de São Paulo.
Como conseguir esse formato de corpo tão acentuado? Simples: espartilho! É nessa época que o corset ou espartilho (a diferença está na forma de fechamento) se tornou uma peça fundamental da moda feminina.
O espartilho era feito de material rígido com amarração ajustável e foi criado para modelar o corpo da mulher. Ao mesmo tempo que levantava os seios, deixava a postura ereta e afinava a cintura, deixando o corpo com a tão desejada forma de ampulheta.
O ápice do uso de espartilho foi na Era Vitoriana (1837-1901). Nesta época, além do espartilho, a vestimenta das mulheres era complementada com roupas pesadas e cheias de volume e babados. Não apenas isso, mas as saias levavam ainda uma armação, a chamada crinolina, que em alguns casos eram bem amplas e pesadas – podiam chegar a 5,5 metros de circunferência em sua parte mais larga.
Somando o uso de espartilho com as saias armadas temos como resultado uma mulher acima de tudo estilizada. Por outro lado, com sérios problemas de movimento! Sem contar os perigos de incêndio. Sim, há várias histórias reais de mulheres que morreram porque seus vestidos pegaram fogo.

O preço do feminino
A figura de um feminino altamente estilizado com certeza veio com um preço.
Embora a postura se mantivesse ereta, o que fazia com que os gestos e o andar fossem delicados, os espartilhos frequentemente eram amarrados de forma muito apertada. Aliás, para se ter uma ideia, alguns modelos de espartilho nem permitiam atividades simples, como levantar os braços ou sentar.
Outras consequências do uso de espartilhos eram a palidez e o desmaiar facilmente. Mas, por incrível que pareça, esses efeitos colaterais eram considerados atributos femininos desejados. Afinal a fragilidade feminina permitia que os homens mostrassem a sua superioridade física e moral.
“O desmaio, que poderia ser provocado pelo espartilho apertado, era um comportamento considerado apropriado às mulheres da burguesia”, observa a historiadora Anna Cláudia Fernandes.
Em nome da beleza, o espartilho ainda forçava modificações no corpo feminino prejudiciais à saúde. Com efeito, devido à compressão dos órgãos internos, as mulheres podiam desenvolver sérios desconfortos e dores.
Por causar tantas limitações, obviamente o espartilho era um “privilégio” reservado às mulheres mais ricas da sociedade. Era, portanto, símbolo de prestígio social. Além disso, esta peça carregava, em si, os valores fundamentais da época, ou seja, associava o conceito de feminilidade à ideia de delicadeza extrema.

Significados sociais e políticos da lingerie
O espartilho nesta época nos permite perceber como uma peça de lingerie pode trazer, em si, conceitos sociais sobre a feminilidade e o papel da mulher!
Por conta da fragilidade feminina acarretada pelo uso do espartilho, até mesmo a classe médica começou a considerar as mulheres naturalmente mais fracas. A debilidade feminina era considerada inevitável e aceitável.
De um lado está a busca para realçar a beleza e a sexualidade feminina, chegando a ponto de criar um estereótipo de feminilidade frágil e delicada. Por outro lado, temos a questão da opressão exercida pelo controle sobre o corpo da mulher. O que pensar disso? Tortura desnecessária ou o preço da beleza? Seja como for, essa questão só foi repensada no início do século XX, após 400 anos da adoção do espartilho!
Ressignificando o espartilho
No século XX a conotação simbólica do espartilho ganha ares muito diferentes. Pensemos, por exemplo, no uso empoderado do espartilho feito pela Madona nos anos 1990. A cantora se apropria do conceito de espartilho e o ressignifica, colocando-o a serviço de sua sexualidade e erotismo. O modelo, criado por Jean Paul Gaultier, é futurista, com a parte dos seios em cone, dando um ar sexy e agressivo, de quem está no controle de sua sexualidade e sabe o que quer. Inegavelmente, a lingerie se tornou ícone da cantora Madona. Principalmente porque leva sua mensagem de uma nova feminilidade, de uma mulher exercendo sua liberdade sexual, dona de seus desejos e completamente empoderada.

Tendências atuais do espartilho
Sem dúvida Madonna e Gaultier foram fundamentais para tirar o espartilho do seu confinamento como roupa interior e abriram o caminho para a sua popularização no mundo contemporâneo. Do mundo da música à moda, do estilo romântico ao gótico, de Beyoncé a Dior, o espartilho deixou para trás sua história de opressão ao corpo e se tornou símbolo de estilo e ousadia! Inclusive para homens!



E você? O que opina disso? Já se rendeu ao encanto do espartilho?
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