Sucesso no país inteiro com seus vídeos irreverentes e non sense, o Porta dos Fundos criou um vídeo intitulado “MODA” que mostra mulheres de burca numa loja escolhendo roupas. No site do grupo, o resumo do vídeo diz:
“Nessa temporada, a mulher contemporânea resgata um clima étnico, com inspiração retrô-urbana em tons mais escuros, elegantes e sóbrios. Os looks, versáteis e despojados, representam a inspiração “deserto fashionista”, com modelagens amplas, soltas e longas, para uma mulher independente, segura, moderna e coberta. Muito charme e recato, para fazer você brilhar esse verão!”
Acesse o vídeo “Moda” do Porta dos Fundos aqui.
Vídeo do Porta dos Fundos usa a burca para discutir a moda nos dias de hoje/ Fonte: Estadão
A reflexão de hoje é sobre a crítica que fazem à compra das burcas e a conversa da vendedora para vender roupas que aparentemente são todas iguais. O uso da burca é muito incompreendido pela sociedade ocidental, que acredita ser um ato de violência contra a mulher.
Porém, as mulheres orientais, que muitas vezes são vaidosas e utilizam roupas de grife e joias por baixo desta veste tradicional (uma cena do filme “Sex and the city II” mostra bem isso), também não compreendem o costume ocidental de mostrar exageradamente o corpo.
Porém, por trás desta brincadeira evidencia-se outra: as roupas que hoje fazem parte das lojas em torno do mundo também se assemelham demais, deixando as mulheres, mesmo que com pouca roupa, todas parecidas. As modas tão cíclicas e efêmeras, saem de uma loja na Av. Montagne ou de um magazine como a Zara diretamente para os blogs de moda, que incitam nas pessoas o “gosto” por aquilo que deverá ser usado, tornando a compradora uma escrava do que é ditado como bom gosto a exemplo da febre das listras brancas e pretas, das roupas neons, das estampas de azulejos, dos short-saia assimétricos, dentre outros, que transformam as mulheres, tais como as que usam burcas, em uma profusão de modelos idênticos, vítimas da aceitação de estarem na tal da “moda”.
Porém, lembremos que o outro também estranha a nossa cultura, e neste caso em particular, a cultura de culto ao corpo e ao consumo é particularmente vista como algo que nos aprisiona, tal como julgamos a prisão por trás de uma veste que não permite mostrar-se e diferenciar-se.
A tendência de moda é alvo de desejo do consumidor, levando-o a se vestir de forma idêntica a todos, como no caso da calça de listras e da saia assimétrica/ Reprodução
Por Gabriela Maroja
Professora e Coordenadora da Graduação e Pós-Graduação em Moda no Unipê/JP
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