Não são poucos os preconceitos que as áreas de humanas sofrem: história, filosofia, sociologia, psicologia. Elas são estigmatizadas como setores de pessoas “cabeças” demais, que pensam em excesso e vivem de ideologias. Quando os alunos chegam aos cursos superiores de moda é comum ficarem atônitos ao se depararem com estes conteúdos, pois pensam que eles nada têm a ver com a moda, esta, comumente associada ao estilismo, ao desenho, à costura, nunca ao pensamento social e científico.
A Sociologia e a filosofia auxiliam na compreensão do que é moda/ Imagem: Steven Meisel/ Vogue Itália
Mas, qual a relação entre sociologia e filosofia no ensino da moda? Um curso de moda para além de ensinar a produzir vestuário ou acessórios, tem como principal missão, fazer os estudantes pensar no comportamento dos consumidores. Também ensina aos estudantes a observar comportamentos socioculturais e tendências (numa visão muito mais ampla que as tendências de moda) dentro de um mundo em constante transformação. Essas percepções só ocorrem com o aporte teórico da sociologia e da filosofia.
É preciso compreender as teorias da moda para entender sua existência e o que ela comunica pelos códigos do vestir. Por isso, não tem como estudá-la e não ler pelo menos três grandes teóricos das áreas de humanas:
Simmel: filósofo e sociólogo alemão que ainda no fim do século XIX e início do XX, analisou a moda como forma de distinção e diferenciação, mostrando exatamente a contradição gerada por esta. Sua teoria deu origem ao que se chama de Trickle Down, que explica o ciclo de lançamento-cópia-desgaste e relançamento das tendências de moda. Seu livro “Filosofia da Moda e outros escritos” é um clássico.
Livros dos principais filósofos que abordam o tema moda/ Reprodução
Lipovetsky: filósofo e sociólogo francês, cujo livro “O império do Efemêro” seja talvez o mais adotado pelas escolas de moda atualmente. Lipovetsky é um autor mais contemporâneo e faz uma análise muito atual do fenômeno da moda desde a Alta Costura até as mudanças provocadas pelo prêt-à-porter. Ele também faz uma séria análise das mudanças no comportamento social e cultural (sobretudo no consumo) na era que ele chama hipermodernidade. Estuda ainda o luxo.
Baudrillard: filósofo e sociólogo também francês, não fez da moda seu objeto de estudo direto, mas a analisa por meio de suas teorias de consumo e das relações desta com as aparências.
Desta forma, podemos dizer que não são poucos os teóricos de distintas áreas a quem podemos recorrer para estudar a moda e sua importância em nosso meio. Para um estudante desta área, nada mais compensador do que descobrir com novos olhos, as origens do fenômeno e de suas consequências em nossa sociedade. Só desta maneira podemos fazê-los refletir sobre as outras questões práticas e até mesmo éticas do mercado que os rodeia e que logo fará parte de sua realidade profissional.
Por Gabriela Maroja
Professora e Coordenadora em Moda do Unipê/JP