A moda e sua relação com o corpo, cultura, valores é mais antiga do que pode parecer…
O homem culturalmente tem a necessidade de cobrir-se, e ao fazê-lo, ele perde as “marcas” individuais – que o corpo natural lhe dá – para entrar no mundo da marca estabelecida pela cultura. A moda (e aqui não só roupas, mas todo o universo que a permeia: atitudes, comportamentos, vestuário e até mesmo objetos) exerce o papel de mostrar ao mundo quem é ele e onde vive.
As Representações Sociais, teoria do psicólogo social Serge Moscovici, explica que elas são um produto das relações entre as pessoas e o grupo, ou seja, entre o indivíduo e a cultura. Deste modo, as representações sociais são compreendidas como estados subjetivos, percepções, valores, ideias que circulam no interior dos grupos e que são os ruídos presentes todo o tempo na troca entre grupo e indivíduo.
Partindo de tais pressupostos, vemos que faz parte das representações subjetivas, várias formas do vestir e do comportamento da sociedade. Temos como exemplo uma pesquisa acadêmica que comprovou que funcionários de uniformes que ocupam cargos simples (exemplo: gari, porteiro, ascensorista, etc.) passam despercebidos pelos transeuntes a ponto de parecerem invisíveis. Isso acontece porque as pessoas talvez não vejam a necessidade de ter um “olhar” diferente a quem lhe presta um serviço ou o uniforme apaga a identidade do indivíduo a tal ponto que o integra no ambiente.
Identidade do indivíduo pode ser suprimida pelo uso de uniforme/ Reprodução
Por outro lado, as roupas formais utilizadas no meio jurídico são utilizadas para aparentar respeito, sobriedade, seriedade, sendo os profissionais da área impelidos a usar somente roupas fechadas e escuras, mesmo fora do contexto de clima ou cultura da região. Certa vez uma advogada me disse que um juiz havia reclamado da roupa do outro advogado do caso, dizendo que ele não vestiu-se “adequadamente” porque não estava de terno, mas de camisa e gravata. O juiz só continuou a audiência quando o advogado colocou o terno completo. A roupa, neste caso, serve como um escudo que protege, auxilia, dá força e credibilidade…
Tudo isso é formado pelas Representações Sociais. Se determinada “tribo” tem o atributo necessário para dela fazer parte, aqueles que querem incluir-se não hesitarão em fazê-lo. É o caso, sobretudo, dos adolescentes que na tentativa de criar sua própria identidade, produzem um mundo tão próprio que causa estranhamento aos que estão fora dele, e ao mesmo tempo tem códigos tão similares entre si, que acabam seguindo padrões e ficando todos iguais.
Busca pela diferenciação e aceitação faz com que jovens sigam padrões e fiquem parecidos/ Fonte: blog Elesandroalternativo
A moda então pode ser entendida como algo que liberta e aprisiona, pois agora que se fala em liberdade, em progresso, em independência, é quando ela mais aprisiona, já que vivemos uma era em que a roupa determina o corpo e seus padrões de comportamento e não o contrário.
Por Gabriela Maroja
Professora e Coordenadora da Graduação e Pós-Graduação em Moda no Unipê/JP
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