Foi-se o tempo que a moda estava restrita às passarelas ou às semanas de moda. Há pelo menos uma década, vários museus no mundo têm investido em exposições relacionadas as roupas e aos costumes contemporâneos.
Diferentemente da tradição museológica, onde as retrospectivas ou as narrativas passadas são o assunto em destaque, as tendências de moda e comportamento têm sido o foco de várias mostras. Do surrealismo ao pós-modernismo, diversos períodos da arte moderna são associados à moda por meio de artefatos de valor científico, artístico, cultural ou histórico.
Réplicas de roupas de diferentes épocas (Museus da Moda de Canela/RS)
Imagem: Reprodução
Com o passar do tempo, os artistas estiveram envolvidos com a concepção de vestuário. Os designers de moda se inspiraram em obras de arte, e a fronteira entre o costureiro e o artista se tornou mais tênue. A exposição de obras de designers de moda em museus agora é comum e há um número crescente de artistas plásticos contemporâneos que usam materiais têxteis e elementos de moda como temas fundamentais em suas criações.
Peças de alta costura da exposição “Paris Haute Couture” em Paris (acervo do Museu Galliera)
Imagem: site fashionistando
A exposição retrospectiva de Yves Saint Laurent no Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque, em 1983-84, confirmou a importância da moda em museus. Muitas iniciativas se seguiram, incluindo a exposição Biennale di Firenze – Il Tempo e la Moda de 1996, que definitivamente ligou a arte com a moda.
Outro aspecto dessa relação dialética entre a arte e o design é o fato de que a moda é um estado efêmero em comparação a um artefato de arte. A produção em massa que caracteriza o declínio de uma moda é algo que deve ser parâmetro para separar ”moda arte” de “simplesmente moda”. Mas a tendência vintage dentro da moda responde a esta inquietação, já que vintage é uma palavra da enologia para designar a melhor seleção de vinhos de cada estação. E aquilo que poderia ser considerado “antiquado” em moda pode ser vestido, colecionado e desejado.
Vale lembrar que exemplares “Made in Brazil” já fazem parte de acervos importantes, como Jum Nakao no Museu Galliera de Paris, Marie Toscano no Metropolitan de Nova Iorque e Ronaldo Fraga no Design Museum de Londres.
Seguindo a tendência, o Museu de Artes Decorativas, vinculado ao Louvre, em Paris, inaugura em julho uma exposição intitulada “La mécanique des dessous, une histoire indiscrète de la silhouette”, que em tradução livre do francês quer dizer “A mecânica da roupa de baixo, uma história indiscreta da silhueta”.
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Para isso, diversas personalidades e colecionadores já assinaram termos de cessão de peças femininas e masculinas icônicas de todo o mundo. A exposição promete permitir aos espectadores se reconhecer no ideal de beleza de cada época, revelando uma diversidade de mecanismos discretos e insuspeitos.
Por Maria Alice Rocha
Doutora ( PhD) em Design de Moda