Segundo Pires (2004), fazer design é designar aspectos de formas, silhuetas, texturas, cores, materiais, emoções, associando-se a ergonomia na ampliação de benefícios, voltada para a estética, funcionalidade e o conforto.
Entendamos ergonomia como o processo de execução da peça, da vestibilidade, do conforto, da adequação ao corpo… E isso é modelagem!
Na indústria do vestuário a modelagem e o processo de criação são, muitas vezes, tidas como etapas diferentes. O molde é considerado uma etapa puramente técnica, sem carga artística e desvinculada da criação. Talvez porque existam muitas obras com receitas de “como fazer” roupas.
Esses manuais possuem metodologias engessadas que, muitas vezes, atrapalham uma prática que poderia ser muito mais experimental, a fim de construir e usufruir da modelagem e o processo de criação, sendo que o primeiro pode atuar como uma ferramenta criativa.
O fato da modelagem estar desvinculada da concepção do projeto, acarreta problemas na execução e compromete o resultado final dos produtos, pois muitas vezes, o criador propõe ideias não adaptáveis ao processo de execução da modelagem.
Mas este problema pode ir um pouco mais além, iniciado dentro das escolas de moda, onde por falta de metodologia compatível, a modelagem se apresenta muito complexa, rigorosa e, às vezes, incompreensível.
E por esta grande dificuldade em entender a dinâmica do molde, por parte de alunos e designers, faz com que atue separadamente da criação, sendo a modelagem e o processo de criação incorporados em etapas diferentes da confecção.
Em termos de adequação, a modelagem permite reproduzir o formato corporal, tal como uma segunda pele de tecido. Admite também desconstruir essas mesmas formas anatômicas para, então, reconstruí-las de maneira totalmente diferente e inusitada. (MARIANO, 2011).
Mariano, na dissertação de mestrado Da construção à desconstrução: a modelagem como recurso criativo no design de moda, ainda salienta que:
– O designer de moda, ao apropriar-se dos recursos de modelagem durante o processo criativo, agrega valor ao produto, por diferenciá-lo em sua estrutura e não apenas em sua aparência exterior.
– A modelagem não é só uma técnica; quando compreendida em profundidade, torna-se um método e pode até mesmo conduzir todo o processo criativo.
– A associação dos métodos – a moulage e a modelagem plana – potencializa as soluções dos problemas de configuração e estabelece um caminho de mão dupla capaz de favorecer a criação de novos produtos.
– O ato de executar a modelagem, partindo de uma visão mais abrangente e menos focada em técnicas determinadas pelos manuais de corte e costura, faz repensar a modelagem como ferramenta criativa.
Um exemplo prático de que a modelagem pode ser uma excelente ferramenta para a criatividade, facilitando e ampliando os horizontes do desenvolvimento de produto, é o trabalho desenvolvido pelo Bunka Fashion College em Tokyo, especificamente na figura do professor Shingo Sato, conforme mostra o vídeo abaixo.
Por Ana Luiza Olivete
Designer de Moda, Professora e Consultora Empresarial
Fontes:
MARIANO, Maria Luiza Veloso. Da construção à desconstrução: a modelagem como recurso criativo no design de moda. Dissertação (Mestrado em Design) – Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2011.
PIRES, Dorotéia Baduy. O Desenvolvimento de Produtos de Moda: Uma Atividade Multidisciplinar. Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, P&D DESIGN,6, São Paulo, 2004.