Sem perder de vista a premissa de inovação – lógica que rege, por excelência, o sistema da moda –, algumas indústrias do segmento conseguem surpreender abordando temas e/ou utilizando materiais e técnicas, aparentemente, tidos como simples, banais e até clichês.
Qual seria a fórmula para se conseguir tal resultado? Penso que a explicação está na capacidade que tais marcas têm de desenvolver uma linha (singular) de expressão e de articular, com propriedade, os recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis. Assim, o trabalho hábil da criação se traduz numa composição fundadora de uma estética capaz de alojar temas e materiais triviais sem se conformar ao lugar comum.
Esse é o caso da marca de acessórios para cabeça Can Can , que por conta disso é mais uma vez tema da minha reflexão. Não me deixo de encantar pelos produtos da marca. As flores, principal elemento/matéria de composição da Can Can, (embora carregadas de sensibilidade) tão sujeitas à pieguice e à banalidade, a cada coleção ganham novos e inesperados contornos nas mentes criativas e mãos hábeis de Fernanda Guimarães e Paolla Falcão. Desvinculada do ritmo frenético e do ciclo nômade e efêmero da moda, a marca, enfim, segue em sua capacidade natural de surpreender pela via da simplicidade.
Peças da coleção verão 2014 da Can Can/ Fonte: site Can Can
Resguardadas as diversas teorias que podem explicar esse efeito, sobre a Can Can, especificamente, andei pensando que, talvez, o princípio da pregnância da forma, proposto pela teoria da Gestalt sirva para esclarecer. De acordo com os gestaltistas, algumas imagens agradam mais o nosso olhar que outras em virtude de sua composição alcançar clareza, equilíbrio e harmonia visual – o que é possível obter a partir de princípios organizadores da forma.
Entre estes princípios está o da pregnância, que declara que “quanto mais simples é a forma, mais facilmente é assimilada, percebida pelo espectador”. Pois bem: acho que essa é uma das questões pontuais da Can Can. Simples, as peças da grife nos pegam de surpresa, seduzem por sua espontaneidade e falta de arrogância e pretensão.
A coleção do verão 2014, Flor é Ser, não me deixa mentir. Singeleza, delicadeza e atitude na medida certa!
Por Clícia Ferreira Machado
Consultora da Federação das Indústrias de Minas Gerais
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