Moda e cinema têm um importante ponto em comum: ambos vendem sonhos. Penso que aí reside um dos motivos centrais da fecunda troca entre esses dois campos. O que se percebe, no entanto, é que nas últimas décadas, as fricções entre as duas linguagens se estreitaram bastante e se estenderam para além de tal similaridade.
A diluição das fronteiras entre as duas áreas intensificou-se significativamente e a fusão de seus códigos (e recursos) tem viabilizado e servido, intencionalmente, ao exercício de comunicar, refletir e formar tendências e comportamentos.
Exemplo recente desta questão é a versão contemporânea do filme Alice no País das Maravilhas (2010). A obra do excêntrico, e altamente criativo, diretor Tim Burton, provocou verdadeiro frisson no campo do design. Coincidência ou não (e, confesso sem saber quem inspirou quem), nesse mesmo ano, a obra-prima de Lewis Carroll ganhou edição, em versão integral, ilustrada pela (primorosa) editora Cosac Naify.
Além de filme e livro, roupas, sapatos, acessórios, joias, cosméticos, objetos utilitários e decorativos inspirados na obra literária e, sobretudo, na rica e colorida (re)leitura de Burton “viraram febre”. Isso assevera a força da linguagem cinematográfica na empreitada de influenciar comportamentos criativos e, consequentemente, de consumo.
Moda e cinema: inspiração que vem do mundo fantástico / Reprodução
A fascinante história de Alice deu origem a produtos lindos e sedutores! Verdadeiros objetos de desejo! Sinal de que astúcia do olhar, combinada a um modo particular de conceber produtos, a competência técnica e habilidade renovadora são capazes de alcançar uma linguagem original. Por conseguinte, podem gerar produtos inusitados, o que possibilita despertar até o mais balanceado apetite de consumo.
Encantados com o mundo de Alice, fashionistas, criaram coleções nos mais diversos estilos. Sonia Rykiel criou para a rede fast fashion H&M, uma coleção de lingerie e homewear. A francesa Printemps comercializou coleções assinadas por ninguém menos que Christopher Kane, Alexander McQueen, Martin Margiela e Ann Demeulemeester.
Outras marcas famosas também buscaram inspiração no filme. No próximo post, falaremos mais delas e outras contribuições que o cinema tem feito para a moda e sobre a relação entre moda e cinema.
Por Clícia Machado
Consultora da Federação das indústrias de MG