Empoderamento feminino no mundo da moda15 min read

Sumário:

Por Leandro Valle @_valleandro

Falar de empoderamento feminino no mundo da moda requer um olhar histórico e uma construção atenciosa e honesta, afinal, o importantíssimo papel das mulheres nesse mercado é o que o torna um dos mais exitosos e multimilionários do planeta!

Por mais que este universo seja visto de fora como frívolo, um tanto banal e puramente comercial, hoje, se faz absolutamente necessário o posicionamento humanista, e ao mesmo tempo, político das principais autoridades no ramo, e a maioria delas são mulheres.

A moda é o berço da beleza, mas por quê?

A moda está presente em nossas vidas de diferentes maneiras, muitas vezes passando despercebida em detalhes como os tipos de tecidos que vestimos, os estilos de roupas que usamos, ou de outras formas mais óbvias, como pelo impacto que uma peça de roupa causa nas passarelas, nos tapetes vermelhos, ou ainda, na constante presença digital nas redes sociais.

Mas é fato que ela traz em sua essência nossos hábitos e costumes.

Falando nisso, que tal dar uma passadinha no nosso Instagram para ter mais um olhar sobre esse universo do fashion tão intenso e interessante?

A socióloga Alecilda Oliveira nos revela que esse fenômeno da moda é um assunto muito importante para ser discutido, afinal, é interessante perceber e entender que a moda não é meramente uma exclusividade da vida cotidiana.

Mas sim, uma consequência da construção identitária da nossa civilização, tendo sua ascensão com maior força a partir do século XIX com o fortalecimento do capitalismo e o desenvolvimento dos meios de comunicação. Colocando o pensamento humano numa zona de análise sobre o que era “estar ou não” dentro da “moda”.

Mulher sufragista com sua faixa com as cores verde, branco e roxa do movimento feminista.
As sufragistas elegeram as cores verde, branco e roxo como a tríade simbólica do movimento feminista internacional em 1911.

Mas afinal, de onde vem o tal do “empoderamento feminino”?

A palavra “empoderamento” deriva de poder, e é definida como sendo um processo pelo qual as pessoas fortalecem as suas capacidades humanas como confiança, visão, liderança e liberdade dentro de um grupo social para promover mudanças positivas contra as situações que vivem ou são obrigadas a viver.

As frases “mulheres inspiradoras”, “elas é que são fortes”, “o futuro é feminino”, “podemos juntas” são alguns exemplos de atrativos comerciais que ilustram o dia internacional da mulher. Mas todas estas expressões carregam um elo comum muito importante, e ele se chama FEMINISMO.

Tradicionalmente, a moda e o Feminismo sempre foram considerados polos opostos. Porém, Feminismo é a noção de que homens e mulheres são iguais, e não há razão para que a moda tenha ou deva entrar em conflito com a igualdade ou com a luta por alcançá-la. Pelo contrário, a moda promoveu certos momentos na história do Feminismo estrelando e fortalecendo o papel da mulher.

Como por exemplo, alguns acontecimentos históricos que contribuíram para o fortalecimento do movimento feminista, e consequentemente, do empoderamento das mulheres na sociedade e no mundo da moda. Abaixo, destacamos os principais para você se inspirar e se empoderar ainda mais! Go girls!

O primeiro alívio:

O ano é 1909, quando surgiu a ideia do designer francês Paul Poiret de uma nova figura de roupa em que a mulher se libertasse do espartilho, e tivesse uma forma cilíndrica sem amarras e fitas apertadas, retirando a figura torturante de seus corpos em formato de S-Bend, e tornando-as muito mais naturais e livres.

Esta foi uma das primeiras grandes mudanças para as mulheres, que eram desde o período da Renascença forçadas a manter seus corpos extremamente torneados, porém, fisicamente “torturados”.

Designer Francês Paul Poiret liberta as mulheres no início do século XX
Jovem da década de 1910 com seu look estilo Poiret.

A batalha é fora da cozinha: Working Girls

Com a explosão da I Guerra Mundial em 1914, os homens vão para a frente de batalha e as mulheres passam a comandar a indústria. Desta forma, elas adquirem um papel ativo na sociedade, o que exige uma mudança radical em seu vestuário. Rendas e peças elaboradas são substituídas por calças e jaquetas, elementos típicos do guarda-roupa masculino.

Funcionalidade e conforto prevalecem sobre a estética e a sedução, dando origem ao surgimento do paletó feminino, por exemplo.

Com isso, há também uma ruptura total com o conceito anterior ao feminismo, o de feminilidade, rejeitando as curvas e buscando a simplicidade das linhas retas. As saias também são encurtadas até o meio da panturrilha em busca desse conforto tão almejado.

No entanto, uma das maiores mudanças foi a aparência dos cabelos curtos, pois seus cabelos longos se enredavam nas máquinas e dificultavam o trabalho. Esse corte de cabelo seria mantido durante todo o período do pós-guerra e se tornaria um símbolo do papel recém-adquirido das mulheres.

A partir deste momento, as mulheres assumem um papel diferente e mais protagônico do que estavam acostumadas, começando por uma maior consciência por igualdade, e da urgente necessidade do reconhecimento dos “direitos das mulheres”.

Por isso, em 1911, as sufragistas, mulheres que buscavam a participação política na sociedade, pensam estrategicamente e colidem totalmente com o binômio de mulher feminina/frágil que pode ser prejudicial para atingir seus objetivos, em vez disso, continuaram com seu papel de mulheres “delicadas”, mas que tinham um objetivo forte de que a moda as ajudasse, ao popularizar as cores que usavam com sua voz de luta.

Todas as mulheres que apoiavam a noção de igualdade vestiam-se de verde, branco e roxo.

A força “sutil” das melindrosas

Já no final da I Guerra, novas figuras femininas apareceram na sociedade como um novo fenômeno sociocultural: as melindrosas. Conhecidas como garçonnes em francês ou flappers em inglês, essas meninas eram modernas, independentes e desafiadoras, já nascidas no seio de uma nova situação social onde as mulheres passam a ter uma participação política mais relevante e intensa no mercado de trabalho e no âmbito econômico.

Isso se traduz em uma liberdade recém-descoberta que a moda deveria facilitar, pois o pós-guerra havia devastado o imaginário social de homens e mulheres, e fazia-se necessário e urgente uma certa “leveza”, mas que trazia o empoderamento feminino como uma forma de ressurreição social, e novamente, o protagonismo era das mulheres!

Os looks dessa época (anos 20, 30) buscaram criar uma figura “unissex” que evitasse diferenças em relação aos homens, com peças soltas que não marcavam os quadris ou os seios.

Essas mulheres jovens e melindrosas, customizavam seus trajes com elementos masculinos como bengalas, chapéus, monóculos ou piteiras compridas para fumar em público, algo totalmente inédito para a época e visto com ousadia pela parte conservadora da sociedade. Cortaram os cabelos e impuseram o estilo Chanel como é conhecido até os dias de hoje.

grupos de mulheres da década de 20 com seus look melindrosos. Um luxo
As melindrosas surgiram a partir da genialidade de estilistas como Paul Poiret, Jeanne Lanvin e Coco Chanel, os três maiores nomes da moda do século XX.

As pernas ganham “asas”

Com a eclosão da II Guerra Mundial, vieram os cartões de racionamento, que também afetaram a moda. A lã era necessária para a confecção de trajes dos exércitos, por isso, as roupas femininas eram feitas em tecidos tecnológicos sintéticos como o rayon ou o náilon, inventados em meados desta época.

As meias de nylon permitiam que as mulheres se livrassem de ligas desconfortáveis, substituindo-as pelas calcinhas como são conhecidas atualmente.

Se o triângulo é das Bermudas, a revolução é dos biquínis

Seguindo o passo da história, em 1946, o engenheiro mecânico francês Louis Réard foi o responsável pela criação do primeiro biquíni moderno, ao observar mulheres na praia que puxavam para cima a bainha de seus maiôs para obter um melhor bronzeado e que fosse mais uniforme e acentuado.

Foi a primeira vez que uma vestimenta destapou o umbigo e mostrou o corpo da mulher, mas, para a época não foi bem recebida!

Infelizmente, a Igreja Católica o condenou e muitos países o vetaram, principalmente na Espanha.

A polêmica continuou por muito tempo. Em 1951, a vencedora do Miss Mundo foi coroada de biquíni, mas a reação foi tanta que o concurso proibiu o uso de biquínis.

Os escândalos continuaram com Briggite Bardot em Cannes, em 1953, usando um biquíni, levando-o a ser adotada como uma vestimenta de resistência.

Assim, os movimentos de empoderamento feminino do final dos anos 1960, o tomaram como um símbolo da emancipação das mulheres e da liberdade de seus corpos que a partir de agora precisavam respirar.

Queimar o filme do patriarcado sim, nossos sutiãs, não!

Em 7 de setembro de 1968, ocorreu uma manifestação de empoderamento feminino na moda em Atlantic City, Estados Unidos, a favor da libertação das mulheres e contra o concurso de Miss América, por ser reconhecido já naquela época como sexista.

Na ocasião, colocaram uma “lata de liberdade”, uma lata de lixo, onde as assistentes jogaram os chamados “instrumentos de tortura” como saltos ou sutiãs. Posteriormente, elas pediram permissão para queimar seu conteúdo e as autoridades negaram.

No entanto, no dia seguinte, o Washington Post, um dos maiores jornais do Estados Unidos, escreveu que “feministas queimaram seus sutiãs”. Esse mito da mídia que nunca aconteceu deu a volta ao mundo e tornou-se um símbolo de libertação e força do empoderamento feminino.

Na verdade, nunca apareceu um sutiã em chamas, mas a queima fictícia dessa vestimenta deu ao Feminismo mais visibilidade do que jamais havia conseguido. Mais uma vitória através da luta das mulheres e da moda. Fogo no patriarcado!

Manifestantes se unem contra o conceito sexista de beleza feminina em 1968 durante um dos maiores protestos feministas do século XX.
O protesto de 1968 conhecido como “Bra-burnig” contra um concurso de beleza Miss América em Nova Jersey deu início à imagem icônica – e mítica – das “feministas queimando sutiãs”.

1980: Power Dress: O empoderamento feminino ganha o mercado de trabalho

Já na década de 1980, as mulheres já acessavam as universidades, surgindo assim o termo bussines women ou “mulheres de negócio” em português.

Eram mulheres instruídas que ocupavam cargos antes reservados apenas para homens, passados de avô para pai, de pai para filho e assim por diante. Mas, como elas quebraram essa barreia machista e meritocrática paternalista? Graças à sua atitude, inteligência, formação, e também, ao estilo da época chamado de power dress.

O Power Dress é uma ressignificação da roupa masculina de trabalho, sendo para a época um símbolo de sucesso e confiança.

Nele, as mulheres usam ternos sob medida, ombreiras e camisas de botão para criar uma imagem de seriedade e autoridade. Foi o grande momento da Armani, por exemplo, com paletós simples adaptados ao corpo das mulheres, e que entrou para a história conhecido como o power suit.

O estilo power dress representado no filme Working Girls.
Harrison Ford, Melanie Griffith e Sigourney Weaver em Working Girl. Créditos: 20th Century Fox,

1983: A democratização dos tecidos tecnológicos

A liberação sexual e o acesso cada vez mais presente ao mundo do trabalho, conferem às mulheres muito mais autonomia e autoestima.

Agora, com o empoderamento feminino cada vez mais presentes em suas vidas, as mulheres estão mais atentas ao próprio corpo e força, por isso, o esporte torna-se uma parte essencial de seu dia a dia.

Nesse contexto, são necessários tecidos mais confortáveis, que não estraguem após várias lavagens, e que possam ser usados inúmeras vezes para ir à academia e praticar esportes.

Alguns tecidos tecnológicos como a lycra® ou o náilon já haviam aparecido nos últimos anos durante a II Guerra, mas não haviam se tornado populares devido à falta de tecnologia e processos de exportação.

Com o passar das décadas, os avanços técnicos possibilitaram a criação de novos tecidos sintéticos como o spandex ou o poliéster, que se adaptaram melhor ao corpo feminino e que rapidamente se popularizaram mundialmente.

Seu ajuste ao corpo feminino era tal, que eles logo escaparam do campo dos esportes e sairam para as ruas, onde as mulheres usavam suas curvas com orgulho e confiança.

Uma live especial da Audaces para eternizar o empoderamento feminino:

1990: O movimento Riot Grrrl e sua estética revolucionária

Este foi um movimento punk feminista que nasceu nos Estados Unidos. Falavam de temas tabu como estupro, opressão do patriarcado ou empoderamento feminino pela “necessidade de conversar entre nós”.

A comunicação e a inclusão são fundamentais para quebrar o código do silêncio. É preciso criar um espaço para as mulheres abrirem os olhos, e se aproximarem sem se sentirem ameaçadas por uma sociedade sexista e historicamente patriarcal.

Este grupo procurou enviar uma mensagem de diversidade, que não só as mulheres bonitas são mulheres. Mas que todas as mulheres são mulheres e ponto.

Para isso, juntaram-se à ideologia e à imagem do punk hardcore, com um guarda-roupa muito extremo e provocativo que renunciava a imagem de mulher atraente e bem cuidada, e quebrava todas as normas sociais associadas ao gênero feminino.

Cortes de cabelo irregulares, lábios com cores fortes e marcantes, tecidos com cores brilhantes como vermelho ou preto e muitas correntes eram algumas de suas marcas.

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Bikini Kill com a vocalista e compositora Kathleen Hanna, a baixista Kathi Wilcox e a baterista Tobi Vail. A banda é considerada a pioneira do movimento riot grrrl nos anos 90.

2006: Apropriação e ressignificação dos tecidos transparentes:

As peças de vestuário transparentes existem desde o século XVIII, mas foi nos últimos 15 anos que tornaram-se populares e cada vez mais cobiçadas. A renda, o tule e os materiais plásticos expuseram completamente o corpo da mulher, que não esconde mais seus atributos, mas que agora os mostra de forma orgulhosa e natural.

A autonomia, a independência e a posição da mulher vivem seu momento crítico desde sempre e até os dias de hoje. E este é o momento de máximo esplendor da liberação do corpo feminino, quando os tecidos não são mais usados para escondê-lo, ocultá-lo ou cobri-lo, mas sim, mostrá-lo como é, sem medo de preconceitos ou reações, e principalmente, contra toda a forma de assédio, opressão e violência.

2016: moda agender e a fusão de gêneros

As barreiras entre homens e mulheres foram totalmente fusionadas. Nesse momento da moda, o preto e branco já não existem mais apenas como cores neutras, da mesma forma que não existe apenas o gênero binário, ou o cisgênero.

Até o próprio Facebook permite a opção de gênero personalizado! E nesse contexto de rejeição às normas da heteronormatividade, surge o estilo agender (sem gênero), que serve para vestir qualquer pessoa independente de quem seja, dando a possibilidade de cada um se autodefinir e autoconhecer como quiser!

As roupas neutras agora, não estabelecem mais essas fronteiras, dependendo de quem você é ou condiciona a maneira como você se veste, liberando completamente as mulheres e os papéis à elas associados.

Não há mais diferenças, pelo menos no que diz respeito à moda, e isso é algo que deve ser celebrado e respeitado!

A moda tem sido uma ferramenta essencial na luta das mulheres pela igualdade ao longo dos anos. E vai continuar sendo, até o dia em que frases como a da camiseta Dior, expostas nos desfiles da grife em 2019:

“A irmandade é poderosa, a irmandade é global” e “a irmandade é para sempre” tornem-se realidade. Porque sim, realmente, devemos ser todos e todas feministas!

10 tendências da temporada de outono Vogue de 2021 que preveem o futuro da moda para todas as mulheres do mundo.
Spoiler: 10 tendências da temporada de outono de 2021 que preveem o futuro da moda. Créditos: vogue.com / By Steff Yotka

“Sisterhood is Powerful, Sisterhood is Global” and “Sisterhood is Forever”

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