Por Eduardo Vilas Bôas
Professor de Moda do Senac SP
A internet trouxe uma nova forma de mediação da comunicação. Agora, segundo Coldry (2009), as pessoas, tradicionalmente usuárias e passivas nesse processo, também podem ser vetores de informação, estejam onde for no mundo. Essa inversão foi o suficiente para alguns especialistas decretarem obsolescência do modelo centralizador das instituições de mídia convencional e sua substituição por novos modelos de comunicação colaborativo, ou seja, aconteceu uma descentralização da mídia.
Essa ideia da descentralização incomoda diretamente os meios de comunicação tradicional, haja vista que a televisão, especialmente, é considera no Brasil como o quarto poder. O próprio conceito de agenda setting, em tese útil para direcionar pautas e filtrar assuntos relevantes a sociedade, foi ressignificado e hoje serve como uma arma da grande mídia a fim de noticiar apenas aquilo que é interessante política e economicamente aos próprios meios de comunicação.
Talvez a primeira mídia convencional que tenha sofrido impacto direto com o advento da internet e, logo, da descentralização da mídia tradicional, tenha sido as revistas de moda. Os blogs de moda surgiram despretensiosos, mas como uma nova plataforma capaz de dar visibilidade a opinião de não-mídias (anônimos). Qualquer cidadão poderia, então, criar um blog e espalhar seu ponto de vista, seus gostos pessoais e influenciar um grupo, contradizendo aquilo que estampava as capas semanais.
Qualquer teoria sobre a importância vital da mídia como um vetor necessário a padronização do gosto, da ordem social e da manutenção de uma operação menos arriscada para a indústria da moda veio por terra com a internet. Se antes dos blogs as revistas de moda impunham uma estética a ser consumida (e produzida), agora a internet permite que a sociedade grite por desejos reais oriundos de diversas partes do globo e rebata valores e estéticas pregados como absolutos, como a magreza acessiva, o consumismo e a beleza plástica utópica.
Para sanar essa nova problemática, ou seja, a falta de um padrão no gosto, a indústria da moda teve que se hipersegmentar, se especializando nos desejos de públicos bem específicos, enquanto isso as revistas de moda estão falindo ou se digitalizando. A mídia se descentralizou, tornou-se colaborativa na medida que a opinião das blogueiras – e da consumidora anônima – tornou-se relevante para o processo comunicativo. Já as empesas de moda tiveram que exercitar sua criatividade e estabelecer um diálogo mais transparente, já que agora até as marcas são controladoras das suas mídias (redes sociais), e os produtos estão mais identitários em resposta a essas novas vozes.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
COULDRY, N. Does the media have a future? European Journal of Communication. 2009, Vol 24(4): pp. 437-449.
Fionte: https://stilo.es/wp-content/uploads/2011/03/revistasmodamarzo2011.jpg
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