A história da moda feminina nos conta muito sobre a história das próprias mulheres. Muda a sociedade, mudam também a moda, a função das roupas e o que queremos expressar através dela. Hoje em dia vemos muito mais representatividade e diversidade de corpos nas passarelas e editoriais de moda do que 20 anos atrás, ainda que tenhamos muito o que avançar nesse quesito. Mas há uma demanda dentro da moda que vem crescendo e se renovando aos poucos: a moda gestante, com roupas pensadas não só para o conforto e as necessidades da mulher em um período de extremas transformações, mas para a autoestima e a beleza feminina.
Sem dúvidas, quando falamos em moda gestante logo pensamos em peças de roupas muito confortáveis, simples e de modelagens amplas, como se o objetivo, além de facilitar a locomoção da mulher, fosse esconder ou pelo menos não evidenciar a gravidez. Mas a mulher, cada vez mais empoderada e exigente com o que consome, precisa ser enxergada como a consumidora que é: ela quer se sentir bonita, representada e valorizada em todos os momentos de sua vida. Por que seria diferente durante a gravidez?
A história e a evolução da moda gestante
Por muito tempo, a palavra conforto não esteve tão presente no guarda-roupa feminino, pelo menos quando o objetivo era se sentir bonita vestindo a última moda. E não precisamos viajar aos séculos de mini cinturas e saias volumosas para resgatar exemplos disso: os saltos altos já foram um dos principais sinônimos de elegância, beleza e sensualidade, enquanto os tênis e sapatos baixos ficavam restritos aos looks com jeans e moletom. Para as futuras mamães, então, essa escolha nem existia. A chamada “moda gestante” passou por uma grande evolução ao longo dos séculos, se tornando um nicho de mercado no Brasil muito recentemente, a partir dos anos 1960.
Como se vestiam as gestantes na Idade Média?
Até o século XIV as roupas para gestantes não iam muito além espécie de um avental, além de seus próprios vestidos que já tinham amplitude suficiente para abrigar a barriga, se limitando a abrir costuras e amarrações quando necessário. Ao mesmo tempo que a geração de herdeiros era o principal papel da mulher na época, a gravidez era tratada como algo “impróprio”, mesmo entre as mulheres casadas, pois era uma clara menção à vida sexual ativa. Por isso, além de não existir uma roupa adequada, o objetivo sempre foi esconder a barriga proeminente.
Um fato curioso sobre o cotidiano na Idade Média é que algumas mulheres adotavam o pregnancy look ou estilo gravidez, em tradução literal. Devido a peste bubônica, pelo menos um terço da Europa foi dizimada, e as mulheres que sobreviveram a pandemia usavam pequenas almofadas sob os vestidos na altura dos quadris a fim de parecerem férteis e saudáveis ao ponto de poderem gerar um bebê.
Sumário
Durante a Renascença, após o primeiro trimestre, era comum que as mulheres ficassem em repouso em casa, reclusas, dispensando o uso de vestidos do dia a dia. Definitivamente, roupas especiais para mulheres grávidas não eram uma preocupação da época.
As primeiras roupas para mulheres grávidas
Apenas no período Barroco, do século final do XVI, surge o vestido Adrienne, um modelo de cintura império (marcada logo após o busto), tecido esvoaçante e muitas dobras, que se expandiam com o crescimento da barriga. Por volta do século XVII, o primeiro vestido para gestantes ganhou também uma espécie de babador para facilitar a amamentação. A mulher em gestação não ficou isenta da moda dos espartilhos e continuou usando a peça, combinada com vestidos que apresentavam pequenas fendas no busto para a amamentação.
É claro que não eram todas as mulheres que possuíam condições e opção de escolher trajes para a gravidez. As mulheres mais pobres precisavam usar suas roupas habituais, adaptando as peças para o crescimento da barriga e escondendo costuras abertas com nas costas com xales.
Era vitoriana: espartilhos para a gravidez
A moda sempre refletiu o seu contexto histórico e social, sendo parte de símbolos dos costumes de cada época. Na era vitoriana não seria diferente: a religiosidade e devoção da Rainha Vitória do Reino Unido e, posteriormente, o luto prolongado pela morte de seu marido influenciou fortemente a moda ocidental do século XIX: mangas longas, golas altas, espartilhos mais rígidos, mangas bufantes e cores escuras predominaram na recatada moda vitoriana.
Como na Idade Média, a gravidez era considerada um assunto intocável na era vitoriana, sendo igualmente mal visto retratar mulheres gestantes na arte e em fotografias — hoje contamos com raríssimas representações de mulheres gestantes de ambas as épocas. Novamente, o foco da moda da época era esconder a gravidez com o uso de espartilhos próprios para a gravidez, endossado por médicos, além de camadas de tecido, rendas e babados para provocar a ilusão de um ventre sem um bebê.
Moda gestante no século XX
Apesar de os espartilhos se manterem presentes nas primeiras décadas do século XX, a partir dos anos 1920 a moda começa a apresentar certo alívio para as mulheres. Vestidos soltos, retos, um pouco mais curtos, com a cintura mais baixa e sem espartilhos também deram um “respiro” para as mulheres gestantes. Ufa! Mas ainda não seria a vez em que os ventres em crescimento ficariam livremente em evidência. Durante muitas décadas a gravidez ainda era ocultada, dessa vez por um padrão de beleza que supervalorizava a magreza. Então, usou-se muitos truques com cós ajustáveis, babados longos no tórax, modelagens amplas e estampas miúdas que tiravam a atenção do ventre.
Entre as décadas de 30 e 40 surgem as primeiras roupas em conjunto de saia e blusa. As mulheres grávidas tinham a opção de utilizar blusas amplas com a cintura marcada, ajustando ou tirando o cinto conforme a barriga se desenvolvia. O modelo de conjuntos se tornou moda entre as gestantes, ainda que não fossem modelos exclusivos para elas. O mesmo ocorreu com as blusas fechadas com botões sobre o busto, que facilitariam a amamentação mais tarde.
Como a “moda maternidade” se tornou tendência
Graças às divas dos anos 1950 e 1960, a moda gestante se tornaria algo elegante e desejado, bem diferente das décadas anteriores. Elizabeth Taylor, Grace Kelly, Lucille Ball e Jackie Kennedy foram algumas das personalidades que mudaram para sempre o modo como mulheres grávidas se vestiriam a partir dali: looks com blusas em formato bata, calça ou saia lápis e vestidos muito elegantes, que não escondiam em nada a barriga.
As mulheres passaram a adquirir peças específicas para a gestação a partir dos anos 60, buscando o conforto que as silhuetas em formato de A dos vestidos e saias não proporcionavam até os últimos meses da gravidez. As blusas e vestidos apresentavam pregas frontais que se abriam levemente para acomodar a barriga. Nos anos 70, as túnicas e vestidos soltos e com ares boêmios eram populares entre as futuras mamães, em comprimentos longos ou super curtos.
Grávidas cheia de estilo
A moda gestante também precisou se adaptar aos avanços da emancipação feminina, oferecendo peças que se adequassem à vida movimentada da futura mãe, que se mantinha no mercado de trabalho. Isso se tornou mais comum nos anos 80, com longas batas e vestidos-camiseta. Era a década do oversized, inclusive para as grávidas. A tendência do jeans também se popularizou na moda gestante, deixando as mulheres cheias de estilo em looks mais despojados.
Nos anos 1990, a moda para as gestantes se tornou ainda mais popular, mas agora as mulheres se permitiam ser mais sexys e valorizar suas curvas. A atriz Demi Moore estreou o que se tornou uma tendência para as capas de revistas, posando nua e grávida para a Vanity Fair. Em paralelo, atrizes ícones de Hollywood grávidas passaram a ser cada vez mais vistas em público com looks criativos e elaborados, saindo do óbvio da delicadeza feminina. Os anos 90 foram a década de maior revolução na moda usada pelas mulheres que, enquanto grávidas, deixaram de se esconder em roupas largas e de cores claras, investindo em looks que evidenciavam as formas do corpo feminino.
Como é a moda gestante hoje
Por volta dos anos 2000, ainda era mais comum vestidos com amarrações abaixo do busto, bata larga e legging como as principais opções de roupas em marcas especializadas no nicho de moda gestante. Mas com a tecnologia e estudos específicos sobre a modelagens dessas roupas e a vontade das próprias consumidoras, é mais fácil encontrar, por exemplo, vestidos modernos e calças que destacam as curvas e deixam o bebê bem confortável.
Os pontos fortes destas transformações estão na modelagem e nos tecidos desenvolvidos ultimamente pelas indústrias têxteis, pelos quais se consegue, através de uma modelagem bem elaborada, uma roupa justa e flexível. A produção das peças para mulheres em gestação apresenta algumas peculiaridades e exige modelagens específicas e bem estudadas para um bom caimento em corpos onde o crescimento da barriga se dá apenas para a frente. Aliás, por apresentar modelagens exclusivas, a produção desse tipo de roupa pode apresentar um preço mais elevado para as consumidoras, restringindo ainda mais a moda gestante a um nicho de mercado.
Futuras mães são mulheres com estilo e personalidades
As mulheres não precisam mais abandonar seu estilo próprio em busca de conforto na gravidez, já que tais peças ganharam formas, cores e design, seguindo as tendências de moda como qualquer outro nicho do mercado. Não dá para negar que a evolução das roupas para gestantes foi fundamental para proporcionar conforto e estilo para as mulheres grávidas, respeitando a diversidade de corpos e sem que a mulher precise abrir mão de sua identidade e de seus gostos durante os meses de gestação.
Cada vez mais marcas se mostram dispostas a investir nesse nicho e produzir peças especialmente para esse público. Afinal, da mesma forma que uma festa, um casamento ou a comemoração de uma conquista na vida profissional, um período de tantas transformações como a gravidez é também uma ocasião que merece um look especial!
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