Você sabe o que é um Maison?
Olá, leitores do Blog Falando de Criação.
Hoje vamos desmistificar alguns conceitos que envolvem a alta costura, contar algumas curiosidades, explicar quem pode usar o termo Maison e discutir um pouco dos desafios que envolvem essa atividade. Vamos lá?
Você já ouviu vários profissionais falarem que fazem alta costura, não é mesmo? Essa definição é muito comum entre os donos de ateliers de criação e confecção de moda sob medida. Mas chamar toda e qualquer atividade nesse ramo de alta costura é errado e vamos te explicar o porquê.
Maison e ascensão da burguesia
O termo surgiu em meados do século XIX quando Charles Frederick Worth, famoso costureiro francês, abriu sua própria Maison. As atividades de Worth eram especializadas na confecção de peças de vestuário para a alta sociedade e com isso surgiu o termo alta costura.
Neste período, a classe burguesa havia ascendido economicamente e conquistado grande influência e poder aquisitivo. Em virtude disso, passou a ter acesso à artigos de luxo, tecidos finos e à mão de obra especializada, que antes era privilégio exclusivo da aristocracia.
Essa movimentação que aos poucos evidenciava o status burguês provocou grande incômodo a realeza, que se via obrigada a modificar suas vestimentas com maior frequência para se diferenciar socialmente. Assim surge o sistema de moda que conhecemos hoje.
Worth acompanhou a ascensão econômica da classe empresária e a busca por novidades por parte da realeza. Foi ele quem iniciou o lançamento de tendências e coleções de moda no formato de desfiles. O costureiro se tornou um ícone importantíssimo na história da moda, pois a partir de seu trabalho a sociedade intensificou o desejo por novidades e pela compra que antecipa a obsolescência dos produtos.
O auge da alta costura
Um pouco mais tarde, Madeleine Vionnet também ficou famosa por desenvolver vestidos exclusivos, e apresentá-los de maneira diferenciada. Geralmente, ela desenvolvia miniaturas das criações em bonecas muito semelhantes às suas clientes.
O auge da Alta Costura ocorreu na década de 50, quando um grande número de costureiros e artesãos passaram a se dedicar a essa atividade e voltaram seus esforços para atender melhor aos seus clientes.
Prêt-à-porter
Mas a chegada do prêt-à-porter, nos anos 60, provocou o início da decadência da alta costura. Aos poucos, a facilidade de comprar roupas prontas em diferentes tamanhos e a preços atrativos, transformou a mentalidade dos consumidores.
Nas décadas que se seguiram, o número de clientes da alta costura reduziu drasticamente. Grandes Maisons como Dior, Chanel e Givenchy passaram a atuar também no mercado do ready to wear por uma questão de sobrevivência. A moda se transformava cada vez mais no símbolo de produto e intensificava sua obsolescência.
A revitalização da alta costura
A decadência seguiu até os anos 90 quando Galliano assumiu a criação da Givenchy e provocou uma profunda revitalização e atração da mídia para os artigos de alta costura. Desde então, apesar de possuir custos exorbitantes para manutenção das atividades – com um número cada vez mais restrito de clientes – voltou a ser o grande propulsor da moda, da arte e das tendências.
Comitê de Alta Costura
Mas, por que é errado chamar todas as atividades de costura artesanal em alta costura? Bom, é simples. O nome Alta Costura, é uma marca registrada, de uso exclusivo do grupo de Maisons reconhecidas pelo Chambre Syndicale de la Couture Parisienne. É uma atividade com proteção jurídica, ou seja, o grupo possui o direito de reivindicar a posse da nomenclatura contra profissionais que façam uso do termo sem pertencer oficialmente ao grupo registrado pelo comitê de alta costura.
Para fazer parte dele, regras rígidas devem ser seguidas, como por exemplo a obrigatoriedade de residir em Paris, apresentar duas coleções anuais, possuir pelo menos 75 funcionários, entre outras.
É um negócio de altíssimo custo, que muitas vezes retorna em prejuízos às Maisons. Ainda que um vestido de alta costura possa custar acima de 35 mil euros, são pouquíssimos os clientes que continuam a consumir esses produtos. O que faz as marcas permanecerem nesta atividade é a influência proporcionada pelo grupo e a alta difusão e reconhecimento das criações no mercado de moda mundial.
Alta Moda
Para você que há anos chama sua atividade de alta costura, sem ter conhecimento deste detalhe tão importante, nós temos uma dica: você pode usar o termo Alta Moda, ele é tão imponente quanto o outro e não possui nenhuma restrição de uso.
A moda é repleta de curiosidades e muitos assuntos são difundidos com tamanha rapidez que perdem algumas informações no caminho. Nós com certeza discutiremos outros detalhes importantes como esse. Fique de olho!
Saiba Mais:
Semana de alta costura em Paris – Parte I
A demi-couture e alta moda
Ready-to-wear ou prêt-à-porter?
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