A estamparia étnica é como um documento de identidade. O floral exótico e as folhagens combinadas a motivos geométricos falam da África tribal, das savanas douradas e da fauna imponente. A surpresa por trás do DNA africano está na origem: a Holanda.
Do território europeu que já foi o centro cultural e econômico dos Países Baixos vem o selo da tradição exibido pela empresa têxtil Vlisco, fundada em 1846. Uma história aliada às técnicas artesanais que são agora celebradas nos tecidos da coleção 2013 com o tema “Hommage à l’Art”(Tributo à Arte).
O feito à mão é a base do legado das estampas da marca holandesa. A nova coleção assinada pelo estilista Maarten Spruyt olha para o próprio passado e homenageia os florais femininos e as representações abstratas frutos do Batik. A técnica utiliza rolos de cobre que gravam com cera – nos dois lados do tecido de algodão – os padrões elaborados artesanalmente. Na sequência, um banho de corantes fixa as tintas nas áreas não cobertas pela cera derretida e as lavagens posteriores arrematam o processo que torna cada centímetro têxtil ímpar.
Os desenhos considerados patrimônio da Vlisco inspiraram a criar novas estampas que reúnem ícones desenvolvidos ao longo de uma trajetória superior a mais de 160 anos.
Os padrões que configuram o “Tributo à Arte” mergulham na paleta de tons que honra o pôr do sol (rosas, roxos e malvas), cultua a face humorada do azul (em derivações de verdes do oceano) e acata a provocação do amarelo (reunindo ocres e laranjas).
As cores tingem motivos idealizados para silhuetas elegantes e luxuosas. Seus pontos de contraste recordam a força sedutora que conquistou a África Ocidental pelas mãos dos alfaiates encarregados de confeccionar vestidos destinados às mulheres de uma estética sofisticada. Os mesmos símbolos femininos de poder que ilustram o editorial da campanha atual como verdadeiras rainhas adoradas em seus pedestais.
Por Raquel Medeiros
Jornalista, coolhunter e editora do site Nas Entrelinhas