Por Lucía Andrea
Designer e empresária de moda
Quem nunca suspirou diante de um par de sapatos muito bem-feito, que atire a primeira pedra. E nem adianta falar que não se importa com moda, pois os calçados surgiram praticamente junto aos primeiros traços de civilização. Mas, muito além da funcionalidade (proteção dos pés, por exemplo), é necessário admitir que há um “quê” de fascinante em torno desses acessórios.
Os primeiríssimos
Há registros de que os primeiros sapatos deram seu ar da graça lá pela pré-história. Pinturas em cavernas já mostram homens usando peles amarradas aos pés. Com o avanço das técnicas de curtimento de peles, além do desenvolvimento do uso de fibras vegetais, os sapatos não pararam de evoluir: sandálias, mocassins e botas passaram a acompanhar fielmente a humanidade. E aqui na América, os povos pré-colombianos (ou seja, aqueles que habitavam o continente antes da chegada de Colombo) também usavam e abusavam dos calçados. Foram encontradas inclusive sandálias feitas de cabelos humanos trançados! Na imagem abaixo podemos apreciar um exemplar de sandálias peruanas do século VI, feitas de ouro.
Sandálias peruanas do século VI. Fonte: Sapatos (Linda O’Keeffe).
Muito além do par de sapatos
Mas afinal, o que há para se ver “além” de um par de sapatos? Símbolos fálicos, recipientes secretos, talismãs, ou até um desejo subconsciente de romantismo “herdado” da Gata Borralheira? Muito já se falou, escreveu e estudou sobre os significados ocultos dos sapatos e o porquê deles causarem tamanha adoração. Segundo Linda O’Keefe, autora do livro “Sapatos”, uma mulher norte-americana possui em média 30 pares de calçados, mas uma colecionadora pode possuir mais de uma centena!
Fonte: gicellando.wordpress.com
Ícones
Olhando para trás, é muito fácil lembrar de um par de sapatos que marcou algum momento da vida – o par usado em um aniversário, em uma formatura, ou até em uma ocasião em torno de alguma lembrança boa. Da mesma forma, há modelos de sapatos que marcaram a memória coletiva da sociedade: os sapatos da corte francesa de Luiz XV, por exemplo, imortalizaram um tipo específico de salto, que até leva o nome do rei. E sem precisar ir muito longe, aqui no Brasil podem ser citadas as Havaianas: um calçado democrático, que se acomoda a todos os gostos e bolsos e que ainda por cima “grita” brasilidade aonde for.
Sapato usado na corte francesa de Luiz XV, entre os séculos XVI e XVII. Fonte: glossariofashion.com.br
E o conforto?
Apesar de ainda existir quem abre mão do conforto em nome da estética, a tecnologia muito tem contribuído para facilitar a vida dos pés: medições cada vez mais exatas dos tipos de pisadas, cálculos de distribuição de peso, novos materiais e até simulações digitais logram o calçado quase-perfeito. Mas, há espaço para todos: calçados artesanais, feitos um-a-um também são muito bem-vistos: a profissão de sapateiro conserva seu charme. E o salto alto? Ele ainda reina quase absoluto nas passarelas, mas já existem legiões de mulheres adeptas aos calçados planos e elas vão muito bem, obrigada.
Materiais usados em sapataria artesanal. Fonte: maiconcustodio.com.br
Seja de rasteirinha, alpargata, coturno, plataforma ou saltão, pessoas e sapatos andam juntinhos, juntinhos. Mas, para a saudável manutenção de qualquer relacionamento, é importante também um tempo a sós: Experimente andar, correr e dançar descalço e porquê não, pisar diretamente na terra, na grama, na areia ou onde você quiser. Há algo de libertador nessa experiência e claro, é uma delícia!