É isso mesmo: o corpo fala, logo, a moda existe! Isso porque o corpo é uma espécie de vitrine da moda. Sem o corpo, a moda fica descontextualizada, sem significados, pois o corpo se veste, se despe, se descolore, se adorna, na intenção de demarcar a cultura, a atitude e de se integrar socialmente dentro de uma comunidade. É através dos signos da moda que se percebem as nuances do tempo, e das formas diversas de manifestações culturais e sociais do individuo e do grupo…
A moda não se dissocia da história, das diversas fases do mundo. E foi principalmente após a Idade Média, que o homem buscou nas modas (de estilo, de classe) uma forma de controle social, uma forma de manter os grupos em sintonia. Embora o homem faça parte deste controle que lhe é imposto e até necessário para a vida em grupo, ele busca na moda sua individualidade, representando por meio do vestuário e seu estilo de vida, seus pensamentos, desejos, necessidades.
Tudo está relacionado com a moda: o uso de roupas excessivas na época do puritanismo, tecidos e adornos ricos identificando classes sociais superiores, o movimento punk que logo se estendeu à moda, o vestido branco da noiva, o véu das mulçumanas… Não se segrega o que o corpo veste dele próprio! Ou seja, a moda é uma representação de nosso corpo no mundo, de nossa corporeidade.
O corpo fala: logo, a moda existe/ Reprodução
Através do corpo temos acesso ao universo que habitamos, é através dos sentidos que nos comunicamos com o mundo à volta, a fala, a visão, o tato… Por isso podemos dizer que moda e corpo se articulam, um não vive sem o outro. A moda reflete arquétipos, modelos ancestrais de nossa condição: marcas de luto, pertencimento a clãs, a famílias, segmentos profissionais, povos e culturas.
A plástica do corpo também é determinada pela moda: em épocas de escassez de comida as mulheres gordas e curvilíneas eram admiradas e desejadas. Na época da grande entrada feminina no mercado de trabalho, os traços andróginos foram muito valorizados. Agora vivemos a ditadura da magreza, pois ao invés de sinal de pobreza, é antes um símbolo de que a mulher é abastada, tem condições de frequentar academias, clínicas de estética, comer alimentos com baixas calorias (bem mais caros), possui personal trainer e personal diet! Na verdade, a moda é a manifestação mais perfeita de nossa condição de animais simbólicos, delirantes (homo demens).
Enfim, moda não é apenas vestuário, não é luxo, não é brilho. É antes de tudo uma concepção de vida, é comunicação, é signo e não há moda que não esteja imbricada com as variáveis sócio-político-econômicas de uma sociedade, de um mundo e de uma época ou de um corpo, pois se corpo fala: logo, a moda existe!
Por Gabriela Maroja
Professora e Coordenadora da Graduação e Pós-Graduação em Moda no Unipê/JP