Por Eduardo Vilas Bôas
Professor de Moda do Senac SP
Os biquínis foram batizados inicialmente de átomos (em função do seu pequeno tamanho), mas quando os Estados Unidos, em 1946, fizeram testes com a bomba atômica no atol de Bikini, o traje foi renomeado, propondo que uma mulher de biquíni provocaria, à época, o efeito de uma "bomba atômica".
Oficialmente a invenção do biquíni é atribuída ao engenheiro automotivo francês Louis Réard, em maio de 1946, mas hoje sabe-se que existem mosaicos na Villa Romana del Casale, na Itália, que mostram mulheres praticando esportes e se exercitando na praia há 600 anos antes de Cristo.
Mulheres tardo-romanas de biquíni na Villa Romana del Casale
Apesar disso tudo, foi o Brasil que soube trabalhar a imagem e modelagem dos biquínis, tornando-se um country-label (maior referência) no segmento. Tradicionalmente a moda brasileira não tem bons índices de exportação, mas a moda praia é o segmento que lidera o ranking. E os Estados Unidos são, há 10 anos, o principal comprador de beach wear, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
Para exportar, no entanto, algumas adequações são necessárias ao produto, já que a consumidora estadunidense tem hábitos diferentes da brasileira. Por exemplo, enquanto aqui adquire-se várias peças a cada nova estação, as americanas permanecem com poucas peças por um período de até três anos (a exceção das altas classes). O mercado consumidor de moda praia lá é altamente segmentado, quer seja por preço, geografia, demografia, estilo de vida, etc.
Embora as americanas sejam as estrangeiras que melhor aceitam o produto Made in Brazil, elas ainda preferem biquínis de modelagem maior.
Em relação a preço há três tipos de comportamento. Aquelas que optam por biquínis baratos (até US$ 50) e não estão preocupadas com a qualidade; as que optam por pagar um preço intermediário (entre US$ 50 e US$80) e tomam a decisão baseadas no design e no caimento do produto; e, por fim, aquelas que optam pela marca (acima dos US$ 80), onde se enquadram os produtos brasileiros.
O maior problema enfrentando pelas marcas nacionais é o valor adicionado ao longo da cadeia de exportação. O produto pode chegar ao cliente final nos EUA com um acréscimo médio de 13 vezes seu valor original. Isso obriga a redução de custos no processo produtivo, o que inviabiliza o interesse de exportação para muitos dos pequenos confeccionistas – a grande maioria do setor.
Enfrentamos também forte concorrência dos produtos mexicanos, que têm apelo cultural, qualidade e não são sobretaxados na importação, como ocorre com os produtos brasileiros, já que o México integra a NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio).
Portanto, para a moda praia brasileira continuar competindo – e voltar a crescer – no mercado internacional, deve haver muito esforço dos Governos e empresários concentrado na diferenciação e exclusividade da chamada marca-Brasil.