A roupa com caráter de escultura desafia a estética e a lógica habitual do mercado. Reclama reflexão. As criações de estética caótica de Craig Green – com foco no público masculino – ressoam dissonantes quando inseridas no contexto clássico da alfaiataria britânica.
O designer britânico Craig Green desafia a estética do mercado da moda/ Fonte: site WWD
Na recente aparição da London Collections Men a exibição de suas silhuetas armadas foram aguardadas com a curiosidade que é peculiar em torno do seu nome. As vestes estruturadas surgiram combinadas às estampas de colorido manchado e psicodélico, que pareciam desconexas e acidentais para sublinhar o conceito de caos e ilusão da coleção.
Para o espectador desavisado, o “caos” que inspira a Primavera/Verão 2014 pode ser compreendido como o tema perene do estilista mestre em design pela Central Saint Martins (2012). O jogo de luz e sombra, o tye-dye que tinge túnicas, as calças de algodão encurtadas e os apetrechos em papel machê e madeira, que desdobram-se em extensões das roupas, expõem a criação artesanal e utilitária e retratam a estética caótica de Craig Green. Na passarela, o desfile que marca sua costura tem uma assinatura teatral e ao mesmo tempo inquisidora por trás das máscaras usadas pelos modelos.
Semeador de opiniões divergentes que versam sobre o que produz, Craig é tratado como visionário. Reinventa o uso de materiais para a indumentária, aposta em volumes excedentes e ousa em acabamentos que também fogem às práticas convencionais.
O designer de 26 anos tem origem simples. Cresceu no norte de Londres sem exposição ao universo da moda, porém, atento às manifestações da arte. Cercado por familiares artesãos e construtores, capturou desse contato as experiências do fazer à mão e de reinterpretar o uso das coisas.
Peça da Criação Primavera/Verão 2014 retrata a estética caótica de Craig Green / Fonte: site Dazed Digital
Talvez sejam suas memórias as melhores respostas para a moda arquitetural e utilitária que estabelece paradoxos sobre a verdadeira função de vestir. As peças cultivam um estilo etnográfico – às vezes nômade – e convidam a pensar sobre a transitoriedade das pessoas na cena urbana.
Por Raquel Medeiros
Jornalista, coolhunter e editora do site Nas Entrelinhas