Em um mundo cada vez mais rápido, exigindo alto índice de produtividade, onde as pessoas são avaliadas muito mais pela sua aparência em redes sociais do que pela sua essência, pelo que possuem e não pelo são, falar de si, encontrar momentos e amigos para conversar e desabafar sobre sentimentos íntimos e pessoais parece fora de moda.
Se você passou por momentos em que se sentiu completamente só e com vontade de desistir de tudo, mas de alguma forma conseguiu dar a volta por cima e está vivo hoje, parabéns! Você é um sobrevivente.
Mas muitos não são.
Setembro Amarelo é uma campanha para nos lembrar disso.
Sabemos que falar de suicídio é delicado, mas é um tema necessário. A OMS afirma que a cada ano cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida e o número de pessoas que tentam suicídio é ainda maior. O suicídio, hoje, representa a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos.
Ainda não há estudos definitivos, mas acredita-se que o isolamento social e a interrupção das atividades cotidianas devido à pandemia podem ser fatores que agravaram ainda mais esses dados.
A campanha do setembro amarelo nos lembra que cerca de 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos de saúde mental. Em primeiro lugar entre eles está a depressão.
Com certeza você conhece pessoas – talvez amigos, familiares – que enfrentam o quadro de depressão e sabe que se trata de uma situação complexa e ainda muito rodeada de preconceitos.
Mas o que a moda a ver com isso?
O mundo da moda não é imune a essa realidade. Quem vê todo o glamour das passarelas, com sua explosão de beleza, cores e tendências, nem sempre consegue imaginar que há pessoas reais com sofrimentos concretos por trás do show.
Possivelmente o caso mais icônico dessa realidade nos últimos anos foi o suicídio da estilista norte americana Kate Spade, designer de moda e proprietária da marca que leva seu nome.
Kate sempre foi muito discreta com relação ao seu sofrimento, mas após a sua morte a família revelou que a estilista padecia de transtorno depressivo e ansiedade havia anos. Segundo relato da irmã, Kate não buscava ajuda com receio da repercussão que isso poderia ter na sua marca.
De fato, a questão do tabu e do estigma ao redor de transtornos mentais e suicídio são fatores que levam muitas pessoas em sofrimento a não pedirem ajuda. Muitas vezes essas questões são vistas como fraquezas de personalidade e não como doenças sérias.
Para agravar a situação, poucos são os países que tem a prevenção ao suicídio incluído entre suas prioridades de saúde. Em outras palavras, pouco ou nada se fala sobre o assunto.
Neste panorama, sensibilizar as pessoas e quebrar preconceitos são ações importantes para alcançar progressos na prevenção do suicídio.
O mundo da moda está atento a essa realidade social e modificando seus editoriais.
Em setembro deste ano, a Revista Vogue lançou um projeto inédito intitulado HOPE – Esperança. Pela primeira vez em seus 128 anos de existência todas as edições da Vogue ao redor do mundo serão sobre este tema comum. A ideia é trazer a discussão de assuntos atuais dentro do mundo da moda.
A Vogue britânica, por exemplo, foi batizada de Ativismo Agora e trouxe na capa a modelo e ativista Adwoa Aboah.
Adwoa é uma das vozes mais interessantes da indústria da moda atualmente, com sua trajetória marcada pelo seu compromisso social e político com a realidade. Está entre as celebridades que fala alto e claro sobre sua depressão e tentativa de suicídio, ajudando a quebrar o tabu sobre o assunto. Por conta das suas experiências pessoais fundou o GURLS TALK PROJECT, uma comunidade digital que promove a discussão livre e sem julgamentos entre mulheres sobre autoimagem, saúde mental e sexualidade. A própria Adwoa usa a plataforma para falar com muita honestidade sobre sua batalha contra o vício e com a depressão.
A modelo também faz parte do projeto Heads Together, uma iniciativa da família real britânica onde celebridades falam sobre sues enfrentamentos a suas doenças mentais. A ideia nasceu logo após o príncipe Harry expor o que sentia sobre a perda de sua mãe e como esse sentimento guardado por tanto tempo afetava a sua vida e rotina laboral. Lady Gaga é outra celebridade que compartilha seus problemas e sentimentos para ajudar vencer o preconceito e o julgamento que impede que muitas pessoas busquem ajuda.
No Brasil a modelo Carol Marra se vestiu de amarelo em apoio à campanha de conscientização sobre o combate à depressão e suicídio. “Vamos ‘pintar de amarelo’ e apoiar essa causa: Juntos pela Vida”, publicou a atriz em seu Instagram.
A atriz e modelo passou por uma cirurgia de redesignação sexual em 2017. Embora afirme que nunca teve depressão, convive com a mãe que sofre com a doença há 30 anos. “Não é frescura. É uma doença. Essas pessoas precisam de ajuda, de compreensão, de um colo”, disse ela.
O alerta de Carol Marra é muito importante. Depressão não é um simples drama. Não é falta de Deus. Não é para chamar atenção. E, sobretudo, não é frescura. É uma doença séria que precisa de apoio e tratamento especializado. E sim, pode levar ao suicídio!
Lembre-se que não existem regras para o suicídio. Existem os sinais!
Fique atento às pessoas ao seu redor. Atenção aos sinais!
Caso você ou alguém do seu círculo pessoal precise de ajuda, lembre-se que o CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional de forma voluntária e gratuita, 24 horas todos os dias.
Acolher sem criticar, conversar sem julgar, compreender os sentimentos daqueles que passam por momentos difíceis fazem parte da filosofia do CVV, mas todos nós podemos incorporar essas atitudes no nosso dia a dia. Podem fazer a diferença na vida de alguém.
Lembre-se que moda é estar vivo. Moda é ser você.
Viver Nunca Sai e Moda!