Discutir “ética” na moda pode parecer algo desnecessário para algumas pessoas. Afinal, o que a fabricação e a compra de roupas e acessórios têm a ver com ética? Assim pensam alguns que acreditam na moda resumida ao vestuário.
Quando se trata da área acadêmica, abordar a questão ética ainda é delicado. Não existe uma discussão amplamente formada sobre o tema e nem aspectos legais que permitam tratá-lo com segurança – tanto pelos docentes, quanto pela própria indústria da moda. O que resta é a reflexão-ação nos aspectos mais subjetivos.
Recentemente os desfiles de alta-costura voltaram a mostrar as peles de animais, após uma grande onda política e ecologicamente correta, que tomou conta da moda por um tempo.
Palavras como responsabilidade socioambiental, sustentabilidade e preservação estão na ordem do dia. Porém, pareceram esquecidas por alguns momentos, quando surgiram nas passarelas a temporada de inverno 2013/14, trazendo uma invasão de peles de deixar qualquer ecologista de cabelo em pé.
Marcas como Fendi, Chanel, Prada, despejaram nas passarelas peles de mink e vison. E o “kaiser” da moda Karl Lagerfeld, deu sua opinião em entrevista para a jornalista Lilian Pacce: “Essa história de que pele é politicamente incorreta acabou. Hoje a maioria das peles vem de animais criados em fazendas. É como ‘não coma carne’. Eu pessoalmente não como, mas não obrigo ninguém a não comer”.
Mas, a questão ética aqui se impõe, afinal, o que se discute é apenas a extinção do animal caçado em razão da pele ou o sofrimento imposto a ele por uma razão meramente ornamental e caprichosa da moda?
Desfile da Fendi na Semana de Moda de Milão / Fonte: Site Oglobo
Outro escândalo que parecia ter ficado para trás, e que está na ordem do dia, é a utilização do trabalho forçado ou análogo à escravidão. Na semana de moda do SPFW Verão 2014, o Ministério Público do Trabalho fez uma ação para chamar a atenção dos “fashionistas” para o lado nada glamouroso da moda: pessoas fabricando roupas para grandes marcas com salários e condições degradantes, jornadas de trabalho extensas e assédio moral.
Recentemente, um prédio lotado de pequenas confecções terceirizadas de grandes marcas internacionais desabou em Bangladesh, deixando centenas de mortos. Questão que também gera uma reflexão sobre as condições de trabalho destas pessoas, que estão por trás de multinacionais que nem sempre assumem as responsabilidades.
Desabamento de um edifício de confecções têxteis de Bangladesh/ Fonte: AFP
Assim, a discussão no âmbito da moda se faz urgente. Como os estudantes e futuros profissionais desta área são preparados para lidarem com estes assuntos? Existem espaços de reflexões reais para uma mudança de paradigmas?
Ou a moda se mostra apenas a “filha dileta do capitalismo”, para citar Lipovetsky? É chegado o momento de preparar os profissionais para além de serem projetistas ou excelentes técnicos. Mas, fazê-los acima de tudo, sensíveis e humanos para as várias questões sociais e ambientais que a moda desperta.
Por Gabriela Maroja
Professora e Coordenadora da Graduação e Pós-Graduação em Moda no Unipê/JP