Por Kledir Salgado
Designer de moda com Mestrado em Têxtil e Moda pela USP
Um dos fatores mais poderosos no sistema de moda é tempo. Para o criador de moda, a diferença central entre seus produtos e de quaisquer criadores de outra área é a velocidade que seu produto leva para chegar ao mercado. A moda tem obsolescência programada, isto é, decisão do produtor de propositadamente desenvolver, fabricar e distribuir um produto para consumo de forma que se torne obsoleto ou não-funcional especificamente para forçar o consumidor a comprar a nova geração do produto.
O usuário precisa de roupas adequadas para diferentes estações, ocasiões específicas e até diferentes horas do dia. O criador de moda deve observar esta problemática do tempo na momento de desenvolver sua coleção, pois seu cliente usa uma roupa formal para trabalhar, compra roupas especiais para ir a festas, recepções e casamentos, compra moda praia em dezembro e janeiro, participa de comemorações como dia das mães em maio, festas no final do ano. Assim o comércio capitaliza a obsolescência das roupas e há uma expectativa não declarada de renovação do guarda-roupa deste usuário.
Assim o criador de moda precisa observar o ciclo de vida do produto de moda, que podemos dividir em 3 grandes grupos:
O grupo das novidades ou modinhas, que são peças que vão vender em grande quantidades influenciados pelo consumo de massa. Muitas aparecem em novelas, desfiles, revistas de moda, filmes, blogues e tornam-se febre de venda. Um exemplo de sucesso foram as meias e as roupas da novela Dancing Days, as pulseiras da personagem Jade da novela O clone, ou mesmo as calças fluors, a saia mullets e as atuais camisas de banda de rock. Estas peças vão vender muito e o retorno às próximas estações será improvável.
O segundo grupo é os dos Clássicos, são as peças que tem sua introdução ao mundo da moda, atingem um ponto de saturação moderado, entretanto há uma manutenção na venda do mesmo, eles vão sempre vender. Bons exemplos: o blazer azul marinho, o vestido preto básico introduzido por Givenchy na moda, o trench coat, camisa polos, mocassim, camiseta básica, tailleur.
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O último ciclo de vida é de produtos de moda e de estilo, caracterizado por peças de roupas que ficam entre a modinha e os clássicos. Elas surgem, vendem e voltam após algumas temporadas. Um bom exemplo são os vestidos rendados da Prada da temporada de inverno 2008. A renda não estava na moda há algum tempo e depois que Miucia Prada apresentou uma coleção toda rendada aconteceu uma reintrodução deste estilo na moda e perdurou durante muito tempo. Outro exemplos são os ombros marcados, laços, babados, poás, botas de caubóis, estampas de animais e florais. Estes eventos de moda sempre vão e voltam a ser tendências, criando assim um ciclo de vida do produto de moda chamado estilo.
Num mundo cada vez mais complexo, o criador deve observar este três ciclos de vida de produto quando for compor seu mix de produtos de sua coleção. Observar seu público-alvo e saber dosar as quantidades de cada ciclo dentro de sua coleção. O ciclo da moda é um mecanismo complexo encadeado por mecanismos da indústrias têxteis e de moda e cabe ao criador não estar avesso a estes sistemas.