Tenho verdadeira paixão por museus! O espaço primorosamente organizado e asséptico, o zelo estético, o ambiente cujo silêncio é providencial (uma espécie de recinto sagrado), além da reverência à história, são altamente sedutores. Assim, visitar museus, para mim, é sempre um programa de prazer.
A palavra museu vem do grego mouseîon, o templo das musas, isto é, “casa das musas” – as musas eram as nove filhas de Zeus e de Mnemosine (a memória) e, segundo a mitologia grega, deusas protetoras das artes e das ciências em geral. O conceito de museu, embora tenha se modificado ao longo do tempo, nunca deixou de referenciar a memória.
Os museus no mundo contemporâneo, entretanto, estão pautados num conceito senão distinto, ao menos ampliado, daquele sugerido etimologicamente pelo termo museu. Estes têm sido menos depositários da memória e mais ambientes de criação, diálogo e preservação do aqui e do agora e de construção do futuro – isto é, lócus, por vocação, de aquisição e desenvolvimento de habilidades criadoras.
O Mude traz uma curiosa linha do tempo, repleta de objetos de moda e design típicos do cotidiano / Reprodução
O museu contemporâneo é, um espaço de permanente diálogo com a sociedade, tem papel significativo no processo de construção simbólica da identidade social, uma vez que objetos/obras e (novas) práticas expositivas, dotados de sentido para o público, possuem qualidade de representação.
Ademais, mais que lugares de memória, cultura e educação, os museus contemporâneos são hoje, lugares de lazer, distração e consumo – aos espaços expositivos, somam-se cafés e restaurantes, lojas e livrarias. Nesse sentido, o museu contemporâneo adere à lógica comunicacional da cultura de massa (e seria possível fugir a tal lógica?).
As repetidas (e sempre estimulantes) visitas que fiz ao Museu do Design e da Moda de Lisboa – MUDE, em Portugal, permitiram-me confirmar tal afirmação. A propósito, não sei ao certo explicar o porquê, mas esse, dentre os muitos museus que conheço, é um dos meus preferidos. Talvez, porque o MUDE possui em seu acervo objetos que “conversam” com o sujeito, o que, certamente, contribui para a promoção de um diálogo mais estreito com o espectador.
Uma interessante linha do tempo, contada por objetos típicos do cotidiano e dos mais variados tipos – roupas, sapatos, acessórios, móveis, elementos utilitários e decorativos – de algum modo, deixam ver o discurso social, narram visual e materialmente acontecimentos históricos, traçando uma cronologia. No ponto de encontro entre o material e o imaterial, o MUDE articula harmoniosamente aspectos cognitivos, emocionais e sensitivos.
Em tempo: entre obras dos mais renomados designers e estilistas, encontra-se, para nosso orgulho, a Cadeira Vermelha (1993-1998), dos talentosos irmãos Fernando e Humberto Campana.
Cadeira Vermelha criada pelos irmãos Campana está exposta no MUDE / Reprodução
Por Clícia Ferreira Machado
Consultora da Federação das Indústrias de MG