O consumo de roupas e objetos no mundo contemporâneo destaca-se pelo que as peças representam para o indivíduo e não, necessariamente, pela funcionalidade. Porém, o consumidor está ficando mais exigente e tem buscado peças que associem estética e conforto.
Isso gera um grande desafio para as indústrias de vestuário: desenvolver peças bonitas, ergonômicas e que atendam aos anseios de consumo da sociedade atual. E leva as confecções em busca de uma produção rápida e que agregue todas essas características à peça.
A doutora (PhD) em Design de Moda e professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Maria Alice Vasconcelos Rocha, trabalha temas como comportamento, consumo e design de moda em suas pesquisas. Ela falou em entrevista para o Blog Falando de Criação sobre a questão do consumismo no mercado de moda.
Por que você desenvolve suas pesquisas na área de consumo de moda?
Maria Alice – Essa é uma área que ainda é muito carente em referências bibliográficas e pesquisas no Brasil, especialmente sob o ponto de vista do consumidor final.
O que leva as pessoas a consumirem desenfreadamente quando trata-se de moda?
Maria Alice – Isso acontece porque o consumidor não tem muito tempo para analisar e escolher. A moda é muito rápida e ele leva para casa aquilo que mais gostou numa fração de segundos e adota as peças como favoritas por um determinado período. O fato do mercado oferecer uma infinidade de opções e do consumidor ser estimulado a comprá-las, contribuem para isso.
Consumo de moda está ligado ao estímulo à compra e as diversas opções de produtos no mercado/ Reprodução
Quais os motivos que levam o consumidor a escolher uma peça e não outra?
Maria Alice – Geralmente ele busca conforto, porém, às vezes, é induzido a comprar devido ao baixo preço, por causa da marca da roupa e, até mesmo, pelo que está em evidência na estação, seguindo a tendência da moda.
Qual o papel das crianças nesse processo de decisão dos produtos consumidos pela família?
Maria Alice – As pesquisas indicam que atualmente são as crianças quem definem a maior parte do consumo das famílias. É em razão delas que os pais determinam onde todos vão passar o final de semana, pois o casal que não tem filhos prefere alguns lugares. Já aqueles que têm filhos, optam por outros. São as crianças também que determinam o local e o que a família vai comer, por exemplo.
As crianças são muito importantes para o mercado hoje? Por quê?
Maria Alice – A criança de hoje é o consumidor de amanhã. Se for estimulado a consumir uma determinada marca, quando crescer vai buscar aquela marca, independente da qualidade e do preço. Existem alguns estudos que apontam que essa “evangelização” das crianças garante o consumismo no futuro.
Falando em futuro, o que é “neuromarketing”?
Maria Alice – Este procedimento consiste em pesquisar as reações dos consumidores a alguns estímulos, aos quais eles não tem consciência ou não conseguem controlar. Por exemplo, é fazer uma ressonância magnética a fim de avaliar a reação dos consumidores em nível neurológico a um determinado produto. A pessoa é estimulada com alguma questão ou produto e os pesquisadores analisam seu comportamento e as reações provocadas no cérebro.
O que pode representar o “neuromarketing” no futuro?
Maria Alice – Este é um assunto controverso, porque consiste em um processo invasivo de análise do comportamento humano com fins comerciais. Na medida que as sensações e percepções mais íntimas do ser humano ficam expostas, estes dados podem ser usados para benefício do consumidor pesquisado ou da empresa interessada. Esse tema leva alguns países a proibirem o uso desta técnica e outros, porém, a não ter restrições sobre o tema.