Para entender como o tecido se transformou em objeto dinamizador para as diversas linguagens da arte, temos que entender alguns conceitos históricos. Foi a partir dos anos de 1980 que a arte contemporânea ganhou forças em sua expressão epistemológica para referir-se à arte produzida no final dos anos de 1960.
A arte contemporânea teve sua origem no espaço que corresponde entre 1960 a 1969, período este que surgiram a Pop Art, o Novo Realismo, a Op Art e a Arte Cinética, o Minimalismo, o Grupo Fluxus, os Happenings, Performances, a Arte Conceitual, a Arte Povera, a Land Art, a Body Art, a Support Surfaces, a Earth Art. Instalações que se valem de materiais heterogêneos como materiais perecíveis, naturais, objetos de uso cotidiano, objetos de diversas ordens.
A partir destes conceitos e movimentos que a arte percorreu durante o período, ela ganhou um espaço de liberdade nunca antes visto. A expressão arte contemporânea suplantou o conceito de vanguarda para referir-se a arte atual, a arte viva, uma arte de ponta.
Dentro da ideia de arte contemporânea parecem estar pressupostas novas estratégias de linguagem com articulações em formas visuais, literárias, teatrais, musicais, de design e outras novidades trazidas pela tecnologia. Neste âmbito, a arte atual renova as formas de expressão já existentes e propõe um constante processo de ressignificação fortalecendo a ideia de perenidade da obra, colocando em evidência sua atitude em vez da forma. Estes são alguns fundamentos estratégicos na articulação da sua linguagem.
No início dos anos 60 ainda era possível pensar nas obras como sendo pertencentes a duas amplas categorias: a pintura e a escultura, mas depois de 1960 aconteceram algumas decomposições em relação a esse sistema de pensamento. Logicamente que até os dias atuais a pintura e a escultura dentro de suas práticas tradicionais ainda se fazem presentes, mas tais práticas acontecem num âmbito muito mais amplo em suas atividades.
Obra de Valèrie Dantas Mota/ Reprodução
Na arte da atualidade o importante está no fato de lidar com as realidades da vida cotidiana, transformando um desejo de desconstrução de significados e de construções de ressignificações.
Ao examinarmos com atenção a arte da atualidade teremos a confrontação com uma desconcertante profusão de estilos, formas, práticas e programas. Parece-nos que quanto mais observamos menos certeza temos quanto àquilo que afinal deciframos ou codificamos como arte contemporânea. Atualmente não parece haver nenhum impedimento do livre criar e poetizar algo que nos serve como material de estudo à arte.
A arte da atualidade tem utilizado não apenas os materiais que tradicionalmente remetem à época clássica, como tinta, metal, pedra, mas também o ar, a luz, o som, as palavras, as pessoas, comidas e muitas outras coisas.
A partir dos mais variados materiais da vida cotidiana, tipos de técnicas utilizadas, estilos e práticas nessa arte recente, o tecido por sua própria estrutura de entrelaçamento, texturas, cores e formas, caimentos, é um dos materiais que se transformou em objeto, escultura, instalação, um novo conceito além do que foi e é usado até hoje como suporte, como tela.
Valley Curtain. Rifle, Colorado, 1970-72. Criação: Christo & Jeanne Claude/ Reprodução
O tecido foi interpretado como humilde, simples, não ortodoxo, na Arte Funk e Povera, empacotador e ambiental dentro do movimento da Earth Art, consumível na Pop Art, revolucionário em Supports-Surfaces.
Contextualizar o tecido como material poético dentro dos movimentos artísticos é tarefa árdua, em se tratando de um signo que a história sempre codificou como estética e material principal para a vestimenta de um povo.
Por Roberto Rubbo
Professor do SENAC Lapa Faustolo
Saiba mais…
– Tecidos aplicados às artes visuais
– Arte e moda: a genialidade criativa de Hussein Chalayan