A moda está em permanente transformação. No decorrer da nossa história, ela sempre esteve em diálogo com o comportamento dos consumidores. Hoje, com cada vez mais pessoas preocupadas com a origem dos produtos que consomem e com o impacto que este consumo poderá ter no meio ambiente e na sociedade, todos os setores estão sendo questionados e reinventados. Daí o surgimento e o crescimento da economia afetiva.
Mas você sabe o que este termo significa? A economia afetiva procura envolver diferentes agentes da cadeia produtiva de um setor para encontrar soluções criativas e sustentáveis que dêem um novo significado e uso para os desperdícios do processo produtivo.
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>> Economia Afetiva: Como o design contribui na construção da moda para um novo mundo
No caso da moda, isso acontece através do uso das sobras inevitáveis da produção têxtil e do vestuário na elaboração de peças de alto valor agregado. Este assunto será tema do webinar gratuito “Economia Afetiva: Como o design contribui na construção da moda para um novo mundo” que será promovido pela Audaces no dia 31/08.
Porque a economia afetiva é uma das tendências mais quentes da moda
A catarinense Amélia Malheiros, presidente do SCMC (Santa Catarina Moda e Cultura), gestora da Fundação Hermann Hering, com uma vida dedicada para a indústria da moda e uma das referências do país no setor, percebeu há vários anos que existia um “gap” muito grande entre o entendimento do que é design e a aplicação dele na indústria.
Sumário
“O entendimento do design fica muito restrito na parte estética dos produtos. Ele até é aplicado no modelar, na materialização do produto, mas não é trabalhado em todo o ciclo do produto ou do serviço”, observa. Essa análise do mercado feita por Amélia Malheiros serve tanto para as empresas que trabalham no setor têxtil e de vestuário quanto para a academia, com professores e alunos discutindo sobre design.
Enquanto isso, em diversas partes do mundo começaram, nos últimos anos, a ganhar corpo as discussões sobre o consumo consciente. Diferentes setores, começando pelos extrativistas, começaram a ter as suas cadeias produtivas questionadas.
“Todas as cadeias produtivas ficaram sub judice, começando pelas mineradoras, passando pelas farmacêuticas e chegando nas indústrias alimentares. A moda vinha sendo salvaguardada, mas aí vieram movimentos como o fashion revolution, que questionou o quanto as pessoas querem pagar por uma roupa”, comentou Amélia Malheiras.
Agora, mais do que nunca, está em alta no mercado o questionamento de alguns valores tidos como normais na sociedade. A busca pelo preço mais baixo pelo consumidor, por exemplo, nem sempre significa formas de produção justa para todos. “A indústria da moda tem um lado muito bonito, o lado A, da luz, que permite que você seja você mesmo, manifeste isso para o mundo, e que gera emprego, renda e desenvolvimento social. Mas ela tem também o lado B, das cadeias produtivas que nem sempre são tão conscientes”, observa a presidente do SCMC.
Como surgiu o projeto Trama Afetiva
Inquietos com o uso restrito do design pela indústria da moda e com a demanda crescente dos consumidores por cadeias produtivas mais justas e que sigam os conceitos de economia solidária e comércio justo, Amélia Malheiros e Jackson Araujo, outra referência do setor no país, se reuniram para um café no final de 2015.
Desta conversa entre os dois, que compartilharam não apenas a vivência no SCMC mas também uma reinvenção pessoal nos últimos anos, surgiu a ideia do projeto Trama Afetiva. Com grande experiência de mercado e acompanhando alguns movimentos iniciantes no país de reutilização de sobras da produção têxtil para a geração de produtos de alto valor agregado, Jackson Araujo assumiu como diretor criativo do projeto iniciado em 2016.
Criador do conceito “economia afetiva”, Araujo se uniu com Amélia Malheiros e três referências do design nacional – Marcelo Rosenbaum, Alexandre Hercovitch e Patrícia Centurion – para lançar o projeto Trama Afetiva.
A primeira edição, que tinha como objetivo inicial selecionar três jovens designers para que eles criassem, sob a tutela dos mentores, novos produtos com a sobra do corte de jeans da Cia. Hering, recebeu 342 inscrições – inclusive de profissionais de outros países.
Frente a um número tão expressivo de interessados, a primeira edição do Trama Afetiva escolheu 11 designers para que eles, junto com Marcelo Rosenbaum, Alexandre Hercovitch e Patrícia Centurion, com a colaboração de costureiras do Cardume de Mães, participassem de uma imersão de dois meses em São Paulo.
A partir deste trabalho foram criados nove produtos que, aproveitando as sobras de jeans da Cia. Hering, geraram novos itens que foram apresentados, inicialmente, no ateliê de Marcelo Rosenbaum em São Paulo.
Depois, estes produtos que mostram o potencial da economia afetiva participaram do MECA Inhotim, um evento realizado no final de 2016 no maior museu a céu aberto do Brasil, que fica na cidade de Inhotim (MG); e do MADE – Mercado.Arte.Design promovido na segunda semana de agosto de 2017 na capital paulista.
“A proposta da economia afetiva é que, diferente da reciclagem, que normalmente gera produtos de baixo valor agregado, usemos o design para transformar a matéria prima que sobra do processo produtivo da moda em algo que retorna gerando ainda mais valor”, observa Amélia Malheiros.
Desta forma, tanto o Trama Afetiva, que terá uma segunda edição em 2018, quanto um grupo crescente de designers no Brasil, estão enxergando nas sobras da indústria têxtil um produto nobre para a geração de outros artigos com design incorporado. Esta matéria prima reaproveitada pode originar novas peças de vestuário e acessórios, peças de decoração e mobiliário, transformando-se em objetos de desejo dos consumidores.
Todos os detalhes do projeto Trama Afetiva e a apresentação de uma cartografia com 17 designers que estão trabalhando com o conceito economia afetiva são o foco do webinar com Amélia Malheiras que será promovido pela Audaces no dia 31/08. Acesse o link para acompanhar a apresentação da presidente da SCMC e para enviar perguntas para ela.