
20/02/2018

Descubra como o tingimento natural é feito nos Andes
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Lucía Andrea Vinatea Barberena
Designer, antropóloga e empresária de moda
Em 2009, trabalhei quase um ano em Cusco, no Peru, junto à comunidades andinas nativas que produzem têxteis finíssimos com fibras de alpaca, lhama e ovelha. Nesse processo, são empregados conhecimentos ancestrais no que diz respeito aos padrões geométricos, aos teares e, claro, ao tingimento.

Trabalhando com os artesãos da comunidade Huacatinco, em Cusco, Peru. Fonte: Acervo Pessoal
Plantas verdes
À primeira vista, todas as plantas são verdes. Kinsakucho, molle, eucalipto, chilca… Mas é na panela que a mágica acontece. As senhoras andinas, conhecidas como “mamachas”, dominam as técnicas de tingimento e produzem uma gama infinita de cores, desde as mais vibrantes até os tons pastéis.
Cada planta tem diferentes propriedades. De algumas, são utilizadas as folhas; de outras, o talo; e, de outras, a raiz. Por vezes, até mesmo líquens e insetos (cochonilha) entram na equação. Existe, inclusive, uma raiz saponácea, que é usada para lavar as fibras. É algo incrível de se ver: faz até espuma, igual sabão de verdade.

Plantas e cores. Fonte: 7continents1passport.com

“Mamacha” tingindo lã de alpaca na comunidade Pitukisca, em Cusco, Peru. Fonte: Acervo Pessoal
Habemus xixi
E para fixar as cores… Nada mais, nada menos do que xixi de homens menores de 15 anos. Mas por que? Simples: a urina masculina possui maior concentração de ácido úrico, que funciona perfeitamente na hora de fixar a cor nas fibras. E deve ser de menores de 15 anos porque os mais velhos consomem álcool, que bagunça todo o PH do xixi e, em consequência, pode atrapalhar a fixação das cores.

Manneken Pis, símbolo de Bruxelas. Fonte: lostraveleros.com
Chinchero
Para quem quiser conhecer de perto o processo de tingimento, na cidade de Chinchero, próxima a Cusco, no Peru, existem vários centros têxteis onde são feitas demonstrações ao vivo da tecelagem andina. É possível adquirir lãs tingidas naturalmente e também peças têxteis já acabadas.

Tecedoras e tecedores de Chinchero. Fonte: go2peru.com
Nilda Callañaupa
Nilda Callañaupa escreveu um livro maravilhoso, chamado “Weaving in the Peruvian Highlands: Dreaming Patterns, Weaving Memories”. A autora é uma artesã de Chinchero cujo trabalho tem sido importantíssimo para fortalecer e empoderar a atividade têxtil nativa dos Andes e também por impedir que técnicas têxteis ancestrais caiam no esquecimento. Fica a dica para visitar sua loja, chamada “Centro de Textiles Tradicionales”, que fica na Av. Sol, nº 603, na cidade de Cusco, no Peru.

Capa do livro “Weaving in the Peruvian Highlands: Dreaming Patterns, Weaving Memories”. Fonte: amazon.com
Dos Andes para a cidade
Os empresários Alfredo Herrera e Marta Barberena, de Lima, no Peru, desenvolveram um corante à base de batata-doce roxa que pode ser usado tanto para finalidade têxtil como para produtos alimentícios. A batata-doce, de origem andina, produz cores em tons avermelhados, e tranquilamente substitui o carmim da cochonilha.

Corante de batata-doce roxa. Fonte: Acervo Pessoal
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