Concordo com Domenico De Masi que o ócio é (verdadeiramente) alimento para a criatividade. Para os mais desavisados, o ócio criativo, defendido pelo autor, não tem nada a ver com falta de ocupação, tampouco com desobrigação ou inação. Ao contrário, significa um estado em que trabalho, diversão e prazer se hibridizam e se confundem.
Aproveito o período de férias para fazer apologia às teorias do sociólogo italiano sobre o ócio criativo. É que a temporada de (relativa) folga me parece um momento muito propício para alimentar nossas mentes criativas – naturalmente criativas, porém, frequentemente sobrecarregadas, é fato. O ritmo de trabalho que se desacelera, favorece tanto a emersão quanto a maturidade das ideias. Processo que pode ser ancorado pelas possibilidades expressivas de uma intensa programação de lazer que, contraditoriamente, costuma se intensificar.
A correria do dia a dia é, pelo menos para a grande maioria das pessoas, um grande obstáculo à inventividade. Ter que cumprir uma lista sem fim de tarefas em um escasso período de tempo, definitivamente, não favorece a originalidade. Inversamente, estimula o automatismo e a reprodução de formas e fórmulas.
É preciso, pois, abrir espaço e tempo para as ideias fluírem. A concretização de boas ideias exige reflexão, o que “casa” com as ideias de De Masi, de que é preciso deixar de se render total e incondicionalmente a regras obrigatórias, não obedecer cegamente aos percursos da racionalidade e não se permitir assediar de modo violento pelo cronômetro.
Sem nos deixarmos levar pelo romantismo ou idealização de um (retorno ao) tempo em que os dias parecem se arrastar para nos oferecer o deleite das horas, penso que é melhor acreditar que pausas e rupturas, ainda que breves, no ritmo frenético do trabalho, podem funcionar como pílulas de solução. Misturar trabalho ao tempo livre pode ser uma ótima saída para dar origem a ideias/produtos originais. E em se tratando de moda, a prerrogativa é bastante pertinente.
Ócio criativo: momento propício para alimentar as mentes criativas/ Fonte: site Dika Kids
Sair em férias, frequentemente, significa visitar novos (ou conhecidos, mas queridos) lugares, conhecer pessoas, andar descompromissada e livremente pelas ruas, contemplar antigas e novas construções, visitar museus e centros culturais, admirar vitrines, ver filmes e ler livros (de uma sempre crescente lista), brincar e se libertar com as crianças, ir a restaurantes energizantes e acolhedores. Enfim, quebram-se rotinas e vivenciam-se experiências que substanciam o processo criativo.
Assim, valho-me da suspensão da convulsão do dia a dia para compartilhar com vocês algumas vivências de férias que têm servido de referência para minha mente (altamente) consumida, mas, e concomitantemente, ávida por “respirar” e se manter cri/ativa. Acredito que estas poderão nutri-los também. Aguarde os próximos posts.
Por Clícia Machado
Consultora da Federação das Indústrias de Minas Gerais