É somente a moda que precisa mudar? Ou os hábitos de produção e consumo que precisam ser repensados, juntamente com uma moda mais justa, mais inclusiva, mais responsável, mais consciente?
O movimento Fashion Revolution atua como uma forma de expor ao mundo que precisamos agir de forma mais consciente, incentivando e exigindo uma maior transparência das empresas e ajudando a melhorar a vida de milhões de pessoas que trabalham na cadeia de fornecimento de moda. Caso contrário, não é só o mundo da moda que tende a acabar, mas também o mundo todo.
Dados publicados por grandes difusores de informações salientam que a cadeia têxtil, além de ser a segunda maior força no mercado brasileiro, gerando milhares de empregos, ainda trabalha com muita obscuridade, fazendo com que esse universo da moda, seja parte de um pesadelo na vida de muita gente.
Mas como?
O tingimento têxtil é responsável por 20% da contaminação das águas. Resultante dos diversos processos de tingimento como: coloração química e sintética, fixação das cores, uso de sabões, amaciantes e demais resíduos, a água contaminada por estes químicos são jogadas nas nossas águas, atingindo as pessoas, a fauna e a flora de forma agressiva, segundo dados da Textile Brochure;
Dos inseticidas usados no mundo, 16% são aplicados nas plantações de algodão para manter a qualidade das fibras, mantendo-as longe das pragas e deixando-as mais longas, o que as valoriza perante o mercado. Porém, esses inseticidas atingem violentamente as vidas diretamente e indiretamente ligadas à sua produção.
Precisamos chamar “a atenção para o uso de pesticidas no cultivo de algodão. A boa notícia é que esse uso diminuiu desde os picos dos anos 1980, mas o algodão é ainda uma das culturas que mais utilizam pesticidas no mundo e – o que é motivo de grande preocupação – o uso está em alta novamente em muitos dos grandes países produtores de algodão. Muito ainda precisa ser feito”, aponta Keith Tyrell, diretor da Pesticide Action Network do Reino Unido.
Não existe “jogar fora”, não existe “planeta B”
Desde os anos 2000, a produção global de roupas mais do que dobrou. Foram produzidos 100 bilhões de peças, segundo a McKinsey & Company. E para onde vão as peças que não se usa mais? É comum dizer: Joga fora! Fora de onde, se só temos um planeta? Alguns países têm feito a “boa ação” de enviar para países mais necessitados, ou seja, transferindo o lixo de lugar, deixando nas costas dos menos favorecidos;
De acordo com os dados da OIT, só entre os anos de 1995 e 2013 foram resgatadas 2.324 pessoas do trabalho análogo à escravidão no setor de confecções no Brasil, onde trabalhavam sem remuneração digna, sem condições de saúde e infraestrutura e sem jornada definida de trabalho;
Pesquisas do SEBRAE mostram uma estimativa de que são desprezadas 170 mil toneladas de resíduos têxteis por ano e que, somente no bairro do Bom Retiro em São Paulo, segundo o Sinditêxtil – SP, são produzidos e despejados nas ruas, aterros e depósitos de lixo da cidade, 12 toneladas desses resíduos. Resíduos estes que poderiam e podem ser minimizados com adaptações nas modelagens para processos que tendem ao Zero Waste, com o uso de softwares que melhoram os processos em geral, sobretudo no encaixe e corte, evitando que milhares de toneladas de resíduos sejam desprezadas. Porque o importante não é apenas dar um bom destino para o lixo, mas não gerá-lo é o caminho efetivo.
Vamos pensar mais nisso?
Deixe aqui nos comentários, a forma com que você ou a sua empresa vem atuando para mudar essa realidade.
Sobre a colunista:
Ana Luiza Olivete é designer de moda, consultora empresarial e professora.