O ensino profissionalizante (técnico ou universitário) de moda no Brasil ainda é muito recente. Enquanto Paris oferecia cursos de quatro anos já no século XVII, o primeiro curso oficial de moda no país surgiu apenas dois séculos depois, em 1988, na cidade de São Paulo. Outro acontecimento relevante para entendermos o contexto da indústria de confecção no país é a abertura dos portos, ocorrida em 1990. Com isso, o comércio interno defrontou-se com a ferocidade (e qualidade) dos mercados globais especializados na matéria, como Itália, Inglaterra, França e, mais atualmente, a China.
Somado a essa concorrência, o SEBRAE estima que 85% das empresas de têxtil e confecção no Brasil sejam de pequeno e médio porte e de administração familiar, na sua maioria pequenas estruturas carregadas de conservadorismo e modelos de gestão ultrapassados.
Mas como preparar os novos profissionais para esse mercado globalizado frente às dificuldades internas?
Acredito que é fundamental pensarmos no melhor direcionamento dos cursos de formação. O profissional da moda brasileira precisa entender a urgência de se aumentar a percepção de valor agregado dos produtos para o consumidor final, principalmente através de uma identidade brasileira. O Brasil nunca esteve tão em voga no mundo. E é nas escolas de moda brasileira, grandes laboratórios do mercado, que esse diferencial competitivo deve ser explorado, extrapolado e direcionado.
O mercado de moda brasileira demonstra claras evidências de uma forte homogeneização. Removendo-se as etiquetas, não podemos mais diferenciar um produto da marca X ou Y. Essa equiparação vem acontecendo mundialmente, basicamente por medo comercial das marcas arriscarem pelo diferente e inovador e não vendê-lo.
Contudo, até a China, maior país produtivo em série da década, vem apontando indícios de desaceleração e, surpreendentemente, vem investindo maciçamente em escolas de design. Sendo indiscutivelmente uma potência produtiva, propõem-se agora a formar uma nova geração para pensar e repensar os bens de consumo de uma forma mais estratégica – e ainda mais lucrativa.
O que nos resta enquanto Brasil? Aproveitar nossas potencialidades para buscar uma moda genuinamente Made in Brazil que possa ser objeto de desejo, primeiramente, no mercado interno. Nossa cultura e natureza são de infindáveis referencias visuais para isso. Basta preparo a arrojo comercial.
O estilista brasileiro Ronaldo Fraga apresentou em sua coleção de verão 2013 uma proposta muito coerente para solucionar essa equação. Passou vários meses inserido na cidade de Tucumã, no Pará, somando todo o talento das artesãs de biojoias às técnicas de produção em marchetaria.
A proposta era utilizar-se dos refugos ambientais (como sementes e cascas de madeira) para junto a sua visão moderna de design, incrementar valor às peças produzidas regionalmente. Assim, além de garantir emprego e renda a comunidade, reaproveitaram insumos da natureza e, estimularam a transformação do olhar do outro através da apropriação cultural. Sua coleção nos mostra peças incrivelmente brasileiras e comerciais, apontando nitidamente ao resgate cultural do próprio povo amazonense, enquanto tornam-se objeto de desejo nas passarelas internacionais da São Paulo Fashion Week (SPFW).
Por Eduardo Vilas Bôas