Neste post quero justificar a importância e relevância da inserção do “fio” nos moldes. Nas empresas confeccionistas que visito percebo a cada dia a preocupação em reduzir os custos com os tecidos utilizados na sala de corte. Por isso, muitas vezes, o “fio” de uma calça ou uma manga é desviado de seu sentido obrigatório, que é referenciado pela ourela.
Em alguns casos específicos o sutil desvio do “fio” não causa tantos danos ao produto final, porém essa ação deve ser estudada de acordo com o modelo de roupa proposto, tecido, modelagem e todo um conjunto estético que o produto final é destinado. A vestibilidade e o caimento da roupa deverão sempre receber atenção extrema, pois são itens que convergem para o consumidor.
No início das aulas de modelagem, muitas vezes meus alunos questionam o motivo de uma t-shirt ficar torcida após a lavagem ou uma calça jeans apresentar uma costura lateral que girou no sentido do dianteiro. São muitos os fatores que influenciam nestes questionamentos e o “fio” fora de sentido não deve levar toda a culpa – existem questões como estruturas e beneficiamentos têxteis, lavagens e temperaturas adequadas, composição de tecidos, ente outras análises. Assunto que vamos discutir em outro post.
Quando o modelista constrói um diagrama originando um molde base ou modelo adaptado, a localização do “fio” torna-se automática em concordância com a construção da modelagem e anatomia a que se destina, relacionando-se aos ângulos utilizados, fato também ligado à estruturação dos tecidos – sejam em tecelagem ou malharia. É sensato discutir e estudar com afinco a relação citada porque, atualmente, os materiais utilizados, shapes, estética visual e tendências de moda são muitas vezes controversos, tecnicamente falando.
A linha do “fio” é a posição que o molde deverá ser cortado em relação à ourela do tecido. Sem a visão e leitura do “fio” torna-se difícil o correto posicionamento do molde ao ser riscado no tecido. Até mesmo por meio do sistema CAD as roupas podem ficar fora de enquadramento.
Observe que além da inserção do “fio”, o sentido que o molde ficará disposto no corte do tecido é de extrema importância. As setas indicativas possuem fundamento e justificam a posição adequada em relação ao tecido. Seguem abaixo algumas posições básicas:
No sistema CAD Audaces Vestuário v11, as posições das setas indicativas do “fio” são automáticas em concordância com o giro do molde no tecido. O sistema CAD torna isso mais prático e eficaz. No processo manual e físico de modelagem, teríamos que identificar com réguas e medidas apropriadas a posição do “fio”.
Repare, na imagem abaixo, que as costas e a frente de uma blusa possuem posição de “fio” reto bilateral (sentido duplo da seta) enquanto que a manga possui posição de “fio” reto unilateral, o molde não pode girar em relação ao tecido (sentido único).
As justificativas e situações abordadas não são regras invioláveis de sentido do “fio” e/ou posição das setas indicativas. Estas questões devem ser bem estudadas, elaboradas e testadas por empresas do vestuário, pensando sempre no consumidor e sua aceitação. Dentro do campo da moda, na confecção de roupas, a percepção estética, modelagem e materiais têxteis utilizados trazem a cada dia alguns paradigmas e novos fazeres.
Fica a dica: É mais adequado fazer a marcação do “fio” na cor vermelha, isso facilita a visualização e evita confusão entre riscos (retas, curvas) que se encontram internamente nos moldes.
Por Roberto Rubbo
Professor de Moda do Senac FAU